Ponte de Versos de fevereiro traz, após 20 anos, no Prato Principal, Afonso Henriques Neto e Alberto Pucheu, ao lado de Thereza Christina Rocque da Motta, editora e fundadora da Ibis Libris
Segundo Thereza Christina, a poesia contribui para a formação do imaginário, do jogo simbólico e da sensibilidade estética, identificando os sentimentos do autor e do leitor
Ibis Libris Editora entra no ano de seu 23º aniversário com 600 títulos publicados até 2022, títulos novos em produção, além dos 24 anos da Ponte de Versos, evento que valoriza a literatura nacional e novos autores. Em fevereiro, a Ponte de Versos contará com a presença de Afonso Henriques Neto e Alberto Pucheu, ao lado da também poeta e editora Thereza Christina Rocque da Motta, fundadora da Ibis Libris, que inicialmente leem poemas autorais. Afonso Henriques Neto e Alberto Pucheu estiveram na Ponte de Versos há 20 anos quando o evento acontecia na Livraria Ponte de Tábuas, no Jardim Botânico, entre 1999 e 2001, e agora retornam para prestigiar o evento.
Após o Prato Principal, abre-se a Sobremesa, com leitura de poemas de todos os presentes, encerrando-se com a Saideira, quando cada um lê mais um poema curto preferido, ou de sua autoria.
Estiveram na Ponte de Versos em 2022:
Em fevereiro, Lílian Maial, Ricardo Ruiz e Rosália Milsztajn. Em março, Celi Luz e Karla Sabah. Em abril, Alice Monteiro e Paulo Sabino. Em maio, Claudia Roquette-Pinto e Léo Ferreira. Em junho, Adriano Espínola, Monica Montone e Cristina Biscaia. Em julho, Gilberto Gouma, Manuel Herculano e Marcelo Mourão.
Em agosto, Tanussi Cardoso, Ramon Nunes Mello e Carmen Moreno. Em setembro, Christovam de Chevalier, Ricardo Vieira Lima e Solange Padilha. Em outubro, William Soares dos Santos, Hélen Queiroz e Cecília Costa. Em novembro, Luiz Otávio Oliani e Renato Alvarenga. Em dezembro, Cristina Fürst, Georgia Annes e Rose Araujo. Em janeiro de 2023: Laura Esteves, Jorge Sá Earp e Jorge Ventura.
Ibis Libris realiza, mensalmente, a "Ponte de Versos", evento literário tradicional, que, este ano, comemora 24 anos. Desde 1999, ocorrendo quinzenalmente na antiga Livraria Ponte de Tábuas, no Jardim Botânico, passando pelo Barteliê, em Ipanema, e pela Livraria DaConde, no Leblon, reunindo poetas novos e já consagrados, a "Ponte de Versos" tornou-se parte da cena poética carioca.
Divide-se entre "Prato Principal", onde os poetas convidados leem por 10 a 15 minutos. Em seguida, é aberta a "Sobremesa" ao público, quando cada pessoa pode recitar um poema por vez e, por fim, a "Saideira", com a leitura de mais um poema curto cada um.
A "Ponte de Versos" acontece no próximo dia 14/02 (terça-feira), das 18h às 21h, na Blooks Botafogo, na Praia de Botafogo, 316 (Espaço Itaú de Cinema). Livre para todas as idades e com entrada franca.
Traga seu poema para a Sobremesa e a Saideira!
Prato Principal
Afonso Henriques Neto nasceu em Belo Horizonte, MG e morou em Brasília. Em 1972, mudou-se para o Rio de Janeiro. Publicou, em edição independente, nesse mesmo ano, seu primeiro livro de poesia, O misterioso ladrão de Tenerife. O segundo, Restos & estrelas & fraturas, saiu em 1975. Em 1976, participou da antologia 26 poetas hoje, organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, que reuniu os trabalhos da chamada “geração marginal”, poetas que resistiam à ditadura militar. Daí em diante, publicou mais 11 livros de poesia, o mais recente, em 2022, Cantar de labirinto, poema de fôlego épico, dividido em 16 cantos. Em 2014, editou o livro de contos Relatos nas ruas de fúria. Em 2017, a antologia "Busca da gema nos destroços", obra publicada em Portugal. Em 2019, o romance Os odiados do sol. Em 2020, publicou Antologia poética, com traduções de poemas de Arthur Rimbaud e, em 2021, os livros A tulipa azul do sonho (Constança, a musa de Alphonsus de Guimaraens, seu avô) e um primeiro livro infantil, Aquilo aquele aquela, com poemas ilustrados por suas netas, Isadora e Natália W. Guimaraens. Publicou vários livros de tradução, entre eles, Ode sobre uma urna grega, de John Keats e O barco bêbado, de Arthur Rimbaud, em 2015, pela Ibis Libris. É professor do Instituto de Artes e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense (UFF) e membro da Academia Mineira de Letras.
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Pois os poemas sobem
dessa lava bruta
a habitar a oculta
paisagem, a fruta
de infinita aurora
que por nós demora
para que a semente
possa enfim germinar,
mar sempre a quebrar
sobre eterno mar.
Cada verso nasce
do diverso verso
que no sem termo
é infindo derramar.
O vento traz poemas
e demais escolhos.
A escolha é do poeta
mineração inquieta.
Trocam-se palavras
para o mesmo tema.
Este parto idêntico
a qualquer poema.
Canto I, in "Cantar de labirinto" (7Letras,2022), Afonso Henriques Neto
Alberto Pucheu é poeta e professor de Teoria Literária da UFRJ. Publica livros de poemas e de ensaios. Dentre os primeiros, A fronteira desguarnecida, poesia reunida 1993-2007, mais cotidiano que o cotidiano (2013), Para quê poetas em tempos de terrorismos? (2107), Vidas rasteiras (2020) e É chegado o tempo de voltar à superfície (2022), estes dois últimos publicados pela Cult Editora. Como ensaísta, publicou, entre outros, Pelo colorido, para além do cinzento; a literatura e seus entornos interventivos (2007), Giorgio Agamben: poesia, filosofia, crítica (2010), a poesia contemporânea (2014), Que porra é essa – poesia? (2018) e Espantografias: entre poesia, filosofia e política (2021). Depois de fazer um documentário e de escrever em um jornal sobre Carlos de Assumpção, organizou sua poesia reunida, Não pararei de gritar, publicada pela Companhia das Letras. Realizou outros documentários com poetas, como Leonardo Fróes e Vicente Franz Cecim, além da série Autobiografias poético-políticas, com André Luiz Pinto, Tatiana Pequeno, Bruna Mitrano e Danielle Magalhães. Organizou diversos livros, periódicos e dossiês, tendo mantido o blog virtual “O cuidado da poesia – poemas do e para este tempo”, com 30 textos de convidados, além de ter escrito um de abertura e outro de encerramento, na Cult. Em 2019, fez a curadoria do primeiro número da Cult Antologia Poética. Em 2021, organizou Poemas para exumar a história viva, livro com poemas sobre presos políticos na ditadura militar, publicado pela Cult Editora.
É CHEGADO O TEMPO DE VOLTAR
À SUPERFÍCIE
É chegado o tempo de voltar
à superfície. Apesar do pulmão
estourado, do estômago
explodido, dos olhos
esbugalhados, das veias
estufadas, dos miolos
espatifados, do corpo
maltratado, algo faz
saber que, apesar de tudo,
resta um fôlego qualquer
para mais um segundo,
aguentando o arremesso
final. É chegado o tempo
de voltar à superfície.
Na encharcada escuridão
desorientadora de espaços
e tempos, depois de
a solidão borbulhar
em vertigem, depois
de desmaiado
um sem número de vezes,
depois de, em um lampejo
súbito de alguma explosão,
não saber se está acordando
ou se desce sonâmbulo
para aquela zona ainda mais
funda, depois de ver o pico
do Everest espelhado
às avessas abaixo
e aqueles seres ínfimos
e imensos, escutando
seus sons de horrores
e deslumbramentos, depois
de boiar em uma nuvem
submersa de explosões,
sentindo que tem medo
e que não tem mais nada
a perder senão o medo,
ficando a dois sopros,
se tanto, da morte, é chegado
o tempo de voltar à superfície.
Com o rosto voltando-se
para cima e a respiração
desafogando-se
e encontrando
pela primeira vez
o ar por sobre o abismo
do qual emerge, é chegado
o tempo, é chegado o tempo
de voltar à superfície.
In "É chegado o tempo de voltar à superfície" (Cult, 2022), Alberto Pucheu
Sobre a Ibis Libris
Ibis Libris é uma editora de primeiros livros de prosa e poesia, ficção e não ficção, infantis, juvenis e cultura em geral. Foi fundada em 18 de agosto de 2000, e hoje tem mais de 500 títulos publicados, principalmente de literatura. Sua fundadora, Thereza Christina Rocque da Motta, é poeta, editora e tradutora. Lançou “Joio & Trigo”, seu primeiro livro de poemas, em 1982. Tem 25 livros publicados, entre eles, “Capitu” (2014), “Breve anunciação” (2013) e “As liras de Marília” (2013). É membro do Pen Clube do Brasil e da Academia Brasileira de Poesia. Fundou a Ibis Libris em 2000, e criou o selo Bisbilibisbalabás em 2002. Em 2021, criou o selo Maat somente para mulheres. Em 2022, lançou “Sheherazade”, seu primeiro livro de contos, pelo selo Maat.
Ibis Libris Editora inscreveu, pela primeira vez, mais de 10 títulos no Prêmio Jabuti de 2022, concorrendo em 16 categorias. Além disso, Thereza Christina fez o pedido de inserção do Dia da Primavera dos Livros no Calendário Oficial da Cidade, aprovado em 6 de outubro de 2022.
Segundo Thereza Rocque da Motta, a "Ibis Libris foi criada para dar voz aos autores que desejam transformar seus sonhos em livros e, por isso, criei uma editora para transformar sonhos em realidade".
Instagram: @ibislibris
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