Cannabis medicinal: Médicos prescritores ainda são poucos diante da demanda de pacientes
A quantidade de pacientes atendidos pode chegar a 6,9 milhões, mas menos de 0,5% de médicos prescreve; fundadora da WeCann fala sobre cenário
A cada dia, a ciência, por meio de pesquisas, comprova a segurança e o potencial terapêutico do uso da cannabis medicinal no manejo dos mais variados tipos de doenças, como dor crônica, epilepsia, esclerose múltipla, autismo, Alzheimer, Parkinson, sintomas frequentemente associados ao câncer como náuseas, vômitos, inapetência e, ainda, outros problemas que também, atingem a qualidade de vida de milhares de pessoas, como a insônia e a ansiedade. Com isso, a demanda de pacientes vem seguindo crescimento exponencial.
Uma análise da Kaya Mind - empresa de inteligência de mercado para o setor - projeta que o Brasil deve finalizar 2022 com mais de 84 mil novas autorizações, em comparação ao mesmo período em 2021, aumento de 119,8%. De janeiro a julho deste ano, 40.782 novas pessoas tiveram a permissão, por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que corresponde a um aumento de 6%.
Segundo a Kaya Mind, o Brasil tem mais de 100 mil pessoas cadastradas no órgão que optam pela cannabis como forma de tratamento. Desses, 84.382 possuem autorizações válidas. Ao considerar o aumento do mercado desde 2019, a expectativa é que, até maio de 2023, o país tenha mais de 200 mil cidadãos registrados na Anvisa.
Os números de médicos prescritores, no entanto, vêm na contramão desse cenário. Levantamento feito com 149 médicos durante a 1ª Conferência Internacional de Cannabis Medicinal (CICMED), realizada em agosto, em São Paulo, constatou que apenas 45,6% trabalham com cannabis e a maioria tem atuação recente no meio, prescrevendo há dois anos ou menos. De acordo com a Anvisa, o país possui 2.100 profissionais aptos a fazerem essa prescrição. O número equivale a menos de 0,5% da quantidade total de médicos no Brasil.
“A terapêutica é um caminho sem volta. Já temos 21 produtos à base de cannabis registrados pela Anvisa e pelo menos mais 15 aguardando deliberação. Segundo a Kaya Mind, a quantidade de pacientes atendidos poderia chegar a 6,9 milhões. Diante desse cenário, os médicos devem assumir a responsabilidade de serem os protagonistas de todas as discussões a esse respeito em nosso país”, fala a neurocirurgiã Dra. Patrícia Montagner, uma das principais pesquisadoras da área no país e fundadora da WeCann Academy - única instituição da América Latina que realiza cursos voltados à Medicina Endocanabinoide, exclusivamente para médicos.
Dra. Patrícia salienta que a classe médica necessita se aprofundar mais no potencial da cannabis medicinal. “Por diversas vezes, estive diante de pacientes refratários ao nosso arsenal terapêutico habitual e, cada vez mais, eles e seus familiares me questionavam sobre a possibilidade do tratamento com cannabis e o fato de eu não dominar o assunto me inquietava”, conta a especialista. “É nossa responsabilidade nos apropriarmos desse conhecimento e oferecer aos pacientes um tratamento com produtos à base de cannabis seguro, eficaz e assertivo”, completa.
A especialista lembra que o uso medicinal da cannabis é uma demanda da sociedade civil e tem pressionado a classe médica a compreender a questão. Fundada em 2020, a WeCann já capacitou mais de 1.000 médicos de várias partes do Brasil e de outros 14 países. “É preciso educar os profissionais de forma tecnicamente qualificada e sem ideologias, para que possamos cumprir com o nosso supremo papel de usar o melhor do progresso científico em benefício dos pacientes”, conclui.
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