Estrutura Corpo Cor traz 60 obras do artista no Espaço Cultural Airton Queiroz
Dos
originais parangolés aos bólides complexos, capazes de se remodelar com
o olhar por meio de texturas, cores vivas e elementos que provocam o
imaginário, o artista carioca Hélio Oiticica (1937-1980) é a síntese do artista libertário. Inventor e
anfitrião de seus próprios trabalhos, resultantes de uma mente aguda,
inquieta, movida por técnica precisa e valores que encontravam nas
questões sociais e políticas sua grande tela para se esboçar,
o artista rompeu a linha que dividia a obra e o espectador, tornando a
interação e a sensorialidade parte fundamental de sua obra e da
apreciação da mesma.
O artista, que revolucionou a arte mundial com suas obras criadas por um espírito que encontrava inspiração nas
manifestações populares do Brasil, será o tema da individual Hélio
Oiticica – Estrutura Corpo Cor, no Espaço Cultural Airton Queiroz, da
Unifor, em Fortaleza, de 26 de janeiro até 1º de maio de 2016.
As 60 obras presentes na exposição, com curadoria de Celso Favaretto e Paula Braga,
mostram a transformação do artista, que partiu da pintura para chegar
ao além-da-arte (por ele denominado “invenção), saindo da
bidimensionalidade para a múltipla experiência sensorial, dando corpo
teórico e experimental à interação entre o público e a obra, unindo arte
e vivência. Os 17 espaços da exposição, assim, marcam as diferentes
fases do artista, como o Grupo Frente, os Metaesquemas, Seco, Bólides,
Neoconcretismo, Macaleia, Relevos espaciais e outros. A exposição
contempla ainda um espaço educativo e uma cronologia do artista, nos
ambientes térreos do Espaço Cultural.
O artista
Hélio
Oiticica (1937-1980) começa a se dedicar à pintura em 1954, quando
inicia os estudos de pintura com Ivan Serpa (1923-1973), no Museu de
Arte Moderna do Rio de Janeiro – MAM – RJ.
No
ano seguinte, realiza sua primeira exposição, na segunda coletiva do
Grupo no Museu de Arte Moderna. Nesse período, o artista entra em
contato com a artista Lygia Clark (1920-1988) e com os críticos de arte
Ferreira Gullar (1930) e Mário Pedrosa (1900-1981) e inicia seus
trabalhos bidimensionais, com a criação de pinturas geométricas de
guache sobre cartão.
Em
1956, começa a criar a série Secos, de guache sobre cartão, técnica com
a qual trabalhará ao longo de toda a década seguinte, criando também a
série posteriormente denominada Metaesquemas.
Em 1958, inicia a série de Pinturas Brancas.
No ano seguinte, o artista, a convite de Lygia Clark e Ferreira Gullar, passa a integrar o grupo Neoconcreto do Rio de Janeiro. A
série Branca evolui de pinturas em cartão para pinturas a óleo sobre
tela e compensado. Realiza obras monocromáticas que incluem pinturas
triangulares em vermelho e branco e também a série Invenções. Inicia o
grupo de Bilaterais.
Em 1963, o artista começa a produção de bólides criando a primeira de suas estruturas manuseáveis, o B1 Bólide caixa 1.
O escultor Jackson Ribeiro, em 1964, o apresenta à Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, que passa a ser passa de sua vida e obra.
Na
Zona Norte do Rio e Janeiro, Oiticica vive outra experiência marcante
em sua obra ao ver uma espécie de construção improvisada por um mendigo
com estacas de madeira, cordões e outros materiais; em um pedaço de juta
consegue ler a palavra "Parangolé" e passa a designar assim as obras
que desenvolvia naquele momento.
A
exposição Opinião 65, marco da história da arte brasileira, no MAM -
RJ, marca um dos momentos mais polêmicos de sua carreira. Proibido de
desfilar com passistas da Mangueira e seus parangolés nas dependências
do museu, Oiticica se retira do espaço expositivo e faz seu desfile no
jardim do local, com repercussão positiva junto a artistas, intelectuais
e imprensa presente.
Nesse
mesmo ano, o artista realiza o B33 Bólide caixa 18 – "Homenagem a Cara
de Cavalo", famoso bandido carioca de quem era amigo.
O
artista, em 1967, inicia suas propostas Supra-sensoriais, apresentadas
no IV Salão de Arte Moderna de Brasília, por meio dos bólides da
"Trilogia sensorial”, e concebe o Éden, conjunto de penetráveis e
proposições supra-sensoriais, expostos em 1969, na Galeria Whitechapel,
em Londres.
No
ano do AI-5, que marca o endurecimento da ditadura, o artista cria para
o show de Caetano Veloso, na boate Sucata, no Rio de Janeiro, a
bandeira “Seja marginal seja herói”, que acaba apreendida e é a causa da
interdição do espetáculo pela Polícia Federal.
A
partir do final dos anos 1960, o artista começa a expor com
consistência no exterior. Depois da exposição na Whitechapel, em
Londres, o artista expõe em Edimburgo (Escócia) e na coletiva “Six latin
american countries”, The Lively Midland Group Gallery, também na
capital britânica.
Em
1970, viaja para Nova York onde expõe os Ninhos na exposição
"Information", com curadoria de Kynaston McShine, no Museum of Modern
Art.
Morre, em 1980, no Rio de Janeiro, vítima de um acidente vascular cerebral.
Sobre a Fundação Edson Queiroz –
Como poucas instituições no Brasil fora do eixo Rio-São Paulo, a
Fundação Edson Queiroz construiu um amplo acervo de arte brasileira,
sobretudo do século 20, com obras de artistas do porte de Lygia Clark,
Di Cavalcanti, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Alfredo Volpi, entre
outros. A articulação entre a educação superior e as artes faz parte da
essência da Fundação Edson Queiroz, mantenedora da Universidade de
Fortaleza (Unifor), onde a comunidade acadêmica convive em harmonia com
as artes visuais, o teatro, a música e a dança, por meio da realização
de exposições e espetáculos e do apoio permanente a seus grupos de arte –
Big Band, Camerata, Cia. de Dança, Coral, Grupo Mirante de Teatro,
Orquestra Infantil de Sanfonas, Grupo Infantil de Flautas, Grupo
Infantil de Violinos e Grupo Infantil de Piano. A Fundação mantém ainda a
Biblioteca de Acervos Especiais, composta por livros raros adquiridos
da coleção de Francisco Matarazzo Sobrinho, aberta à visitação pública
sob agendamento.
Sobre o Espaço Cultural Airton Queiroz –
Criado em 1988 e ampliado em 2004, o Espaço Cultural Airton Queiroz
apresenta estrutura compatível à dos grandes salões de arte do mundo. O
espaço, localizado no prédio da Reitoria da Universidade, já recebeu
nomes de importância da arte internacional, como Rembrandt, Rubens e
Miró, artistas brasileiros consagrados, como Antonio Bandeira, Candido
Portinari, Beatriz Milhazes e Adriana Varejão, e novos talentos da arte
cearense e nordestina. O ambiente reflete a figura do chanceler Airton
Queiroz, presidente da Fundação Edson Queiroz, que parte da compreensão
da capacidade que a arte detém de ampliar conhecimentos em todas as
áreas do conhecimento. Por meio do Projeto Arte-Educação, estudantes de
escolas públicas e particulares são guiados por monitores especialmente
treinados, reforçando o caráter educativo da visitação.
Hélio Oiticica – Estrutura Corpo Cor
De 26 de janeiro a 1º de maio de 2016
26 de janeiro, 19h – abertura para convidados
27 de janeiro, 9h – palestra com os curadores Celso Favaretto e Paula Braga, no auditório da Biblioteca Unifor
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