quarta-feira, 12 de novembro de 2014

MÚSICA

Novo Pink Floyd é ótima música de elevador

Produzido a partir de retalhos de gravações do álbum anterior, "The Endless River" tem peças delicadas e etéreas

Trata-se de uma homenagem póstuma ao tecladista Rick Wright (1943-2008), feita com retalhos de registros das gravações do álbum "The Division Bell", em 1994. Mas... e daí? "The Endless River" é um disco novo do Pink Floyd, 20 anos depois do antecessor, e nenhuma fanfarra para recebê-lo será exagerada. Afinal, poucos nomes transformaram o rock como o Pink Floyd. Na estreia, com o pirado Syd Barrett (1946-2006). Depois, com o clássico "The Dark Side of the Moon" (73). E com a ópera-rock "The Wall" (79).
"The Endless River" não figura entre os dez melhores discos do Pink Floyd. "The Divison Bell" também não. Mas ambos estão carregados com os elementos revolucionários que alimentaram as obras-primas da banda. Sem o baixista e vocalista Roger Waters, fora do grupo desde o álbum "The Final Cut", de 1983, o Pink Floyd foi conduzido depois pelo guitarrista e vocalista David Gilmour. Ele e o baterista Nick Mason se debruçaram sobre mais de 100 horas gravadas antes da conclusão de "The Division Bell'. Muita coisa continha registros com apenas Wright e o teclado. Em cima deles, os dois construíram o novo álbum.
Não é um trabalho de rock vigoroso. É uma coleção de temas instrumentais que tendem à música ambiente. Esse gênero, muito explorado por Brian Eno e Robert Fripp, despreza as estruturas habituais da canção e constrói peças delicadas, etéreas. Esse formato fica agradável quando feito por alguém como David Gilmour, que talvez tenha o toque mais suave nas cordas entre todos os grandes guitarristas do rock. "The Endless River" é muito bonito.
Oito das 18 faixas têm menos de dois minutos. São quase vinhetas. As duas melhores são "Alons-Y (1)" e "Alons-Y (2)". A única canção do álbum, com letra, é "Louder Than Words". Os versos são de Polly Samson, jornalista e mulher de Gilmour. Ela foi coautora de sete das 11 faixas de "The Division Bell".
Desde a saída de Roger Waters, letras deixaram de ser interessantes nos discos da banda. A ordem é esquecê-las e prestar atenção na "conversa" entre a guitarra de Gilmour e os teclados de Wright. De arrepiar. "The Endless River" parece um disco de música ambiente, ou, como era pejorativamente chamada há décadas, "música de elevador". Mas é talvez a melhor música de elevador já lançada.

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