Artistas sobem ao palco de um dos maiores teatros da dança mundial em setembro, dando vida a espetáculo que exalta a pluralidade cultural brasileira
(Imagem: Analice Diniz)
Em um ano marcado pelo intercâmbio cultural entre França e Brasil, 14 bailarinos brasileiros desembarcam em Paris, em setembro, para se apresentar no emblemático Théâtre National de Chaillot, com o espetáculo “Nosso Baile!”. Entre o grupo, estão oito representantes cearenses, egressos do Curso Técnico em Dança (CTD), da Porto Iracema das Artes – equipamento da Secretaria de Cultura do Estado (Secult CE), gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM).
Dirigida pelo renomado bailarino Henrique Rodovalho, a montagem “Nosso Baile!” foi apresentada inicialmente em 2021, em São Paulo. O sucesso da apresentação original motivou uma remontagem do espetáculo neste ano, como parte do projeto “Conexões Artísticas Internacionais - CAIS”, promovido pela XV Bienal Internacional de Dança do Ceará.
Reunindo ritmos tipicamente brasileiros, “Nosso Baile!” utiliza elementos presentes em variados estilos de dança do Brasil para encantar a plateia, demonstrando a diversidade existente na cena coreográfica nacional.
“As músicas são todas muito estimulantes e o volume vai estar lá em cima o tempo inteiro. Também vamos trazer a questão dos ritmos, porque aqui temos vários ritmos ótimos, no Brasil todo. E a ideia é essa mesmo, dessa mistura toda, para deixar os franceses louquinhos com os ritmos”, explica Rodovalho.
Para além do repertório musical, a pluralidade cultural se reflete também na composição do elenco, formado por artistas de diferentes localidades do país. O Ceará é o estado com maior número de representantes, reunindo oito bailarinos: Rafael Lima, Diego Freire, Larissa Ribeiro, Lucas Vaz, Sergio Gadelha, Thaisa Bertoldo, Venícios Oliveira e Wanderson Ferreira.
“O elenco foi montado a partir de um convite que a Bienal fez para artistas que eles conhecem e acreditam [no potencial]. E está sendo bem interessante. São corpos totalmente diferentes, formas diferentes de se expressar, formas diferentes de entender a dança e a cultura brasileira”, relata o bailarino Lucas Vaz, que ensaia junto ao grupo, durante todo o mês de julho, na Porto Iracema das Artes.
FORMAÇÃO QUE IMPULSIONA VOOS ALTOS
Essa, no entanto, não é a primeira vez que os artistas cearenses cruzam os corredores da Escola. Todos os representantes do Ceará são egressos do Curso Técnico em Dança (CTD) da Porto Iracema das Artes, reconhecido como uma das principais referências em formação artística no Estado.
Para Lucas, a passagem pelo CTD foi fundamental para sua formação e desenvolvimento enquanto artista: “Todos os artistas que a gente conhece, que são referência na cidade e fora da cidade também, vieram do CTD. É uma formação completa. A gente sai muito munido de todas as coisas que a gente precisa saber para poder estar em cena. É questão de espaço, de composição, de criação, de técnica, de entender uma iluminação, de entender sonorização, de entender a dramaturgia por trás dos trabalhos”.
Já a bailarina Larissa Ribeiro, que também integra a parcela cearense de artistas da montagem de Rodovalho, destaca que sua participação no curso contribuiu significativamente para seu entendimento sobre trocas e aprendizados coletivos, elementos fundamentais na construção de espetáculos como “Nosso Baile!”
“É um curso muito complexo. Você adquire muita experiência com muitas pessoas e sobre diversos lugares da dança também. Então, para mim, é uma experiência bem enriquecedora”, ressalta Larissa.
Fundado em 2005, o CTD foi a primeira formação a oferecer ensino técnico de dança no Ceará de forma gratuita. Desde então, o curso já formou mais de 200 bailarinos, oriundos de diferentes localidades do Estado, consolidando-se como um dos mais importantes espaços de fomento à cena coreográfica cearense.
Neste contexto, a parceria entre o CTD e a Bienal Internacional de Dança do Ceará, na nova edição da mostra, reafirma o compromisso das entidades com o reconhecimento e valorização de bailarinos cearenses, como explica Clarice Lima, coordenadora artística da mostra.
“Durante a criação do ‘Nosso Baile!’, foram convidados artistas de São Paulo, da Bahia, de Minas Gerais, e, para a gente, era muito importante ter a presença de artistas da dança cearense [também]. Assim, a gente firmou essa parceria com o CTD não só como forma de reconhecimento a todo o investimento em formação em dança, mas também em reconhecimento a esses grandes artistas, que estão saindo dessas formações em dança e têm uma qualidade técnica e artística excelente, que, junto a artistas de peso de outros estados, vem somando, contribuindo e fazendo com que esse trabalho seja realmente incrível”, afirma Clarice.
Coordenadora do Curso Técnico em Dança, Bilica Léo também celebra a colaboração, considerando-a uma importante ação de impulsionamento na carreira desses artistas: “O CTD está colhendo os frutos dessa parceria incrível com a Bienal Internacional de Dança do Ceará. É um acontecimento inédito na história do curso e, com certeza, será um marco na trajetória artística e na vida desses jovens bailarinos”.
CONQUISTAS QUE ATRAVESSAM FRONTEIRAS
Após o término do período de ensaios, os bailarinos se preparam para cruzar o Atlântico e desembarcar em Paris, onde sobem ao palco do Théâtre National de Chaillot, um dos mais importantes e conceituados teatros do planeta, considerado um templo da dança na França.
Para a cearense Larissa, a apresentação no Théâtre de Chaillot é mais do que a realização de um sonho, é a representação física de todo o esforço dedicado à carreira artística ao longo dos últimos anos.
“É muito importante para mim, ainda mais enquanto pessoa negra, mulher, vinda de favela. Porque tem muitas coisas que a gente acredita que são barreiras, muitas vezes que a gente acredita que não pode chegar em todos os lugares, mas, cada vez mais, eu vejo que posso chegar nesses lugares, e isso é um resultado desse processo [de dedicação]”, afirma a bailarina.
Inserido no universo da dança desde a infância, quando arriscou os primeiros passos nas ruas, Lucas também enxerga o espetáculo como uma conquista significativa e não disfarça a ansiedade para subir no palco francês.
“A expectativa é muito alta e a gente fica com um misto de emoções. Mas a sensação é que a gente está indo para um lugar que a gente merece ocupar, onde a gente merece estar, onde o Brasil e o Ceará merecem estar. Pessoalmente, eu fico muito feliz e também muito alegre porque eu comecei a dançar nas calçadas das ruas com 11 anos, depois fui para os projetos sociais, para o CTD e agora posso ocupar um teatro desse, como o Chaillot. É uma coisa muito significativa”, conta o artista.
No Brasil, “Nosso Baile!” estreia em outubro, durante evento realizado em Fortaleza e promovido pela XV Bienal Internacional de Dança do Ceará. A mostra também apresenta uma versão inédita da montagem “Carmen”, coreografada por Thiago Soares, e com Lay Matias, Natiele Lino e Nicole Rocha, egressas do CTD, no elenco.
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