quarta-feira, 10 de julho de 2019

UFC







Uso ginecológico da pele de tilápia é descrito em uma das revistas científicas mais importantes do mundo

A descrição do procedimento inédito de uso da pele de tilápia para reconstrução vaginal foi publicada recentemente no periódico científico de maior impacto na área de fertilidade e ginecologia do mundo, chamado Fertility and Sterility ‒ publicação oficial da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM, na sigla em inglês).

O método para a aplicação da pele de tilápia nesse tipo de intervenção foi desenvolvido no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM) da Universidade Federal do Ceará e na Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (UFC/EBSERH), onde a técnica começou a ser trabalhada há três anos, de forma pioneira, pelo Prof. Leonardo Bezerra, do Departamento de Saúde Materno-Infantil e um dos autores do artigo.

Com o título “Tilapia fish skin as a new biologic graft for neovaginoplasty in Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser syndrome: a video case report (“Pele de tilápia como novo enxerto biológico para neovaginoplastia na síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-

Hauser: relato de caso em vídeo, em tradução livre”) o artigo demonstra, em vídeo, o passo a passo da técnica de intervenção cirúrgica na qual, pela primeira vez, utilizou-se pele de tilápia para reconstruir o canal vaginal de uma paciente com síndrome de Rokitansky. O vídeo também está disponível no canal do periódico no YouTube. Em breve, será publicado artigo na versão impressa da revista.

Como o público-alvo da revista é formado por ginecologistas, cirurgiões, biólogos e pesquisadores de áreas correlatas, a equipe cearense responsável pela pesquisa já está em contato com cientistas do mundo inteiro interessados em saber mais sobre a técnica, o que deve ampliar ainda mais a rede de pesquisa sobre a pele de tilápia.

Além do Prof. Leonardo Bezerra, também assinam o artigo publicado na revista os pesquisadores Ana Cecilia Venancio, Ana Paula Negreiros Nunes Alves, Andreisa Paiva Monteiro Bilhar, Bruno Almeida Costa, Edmar Maciel Lima Júnior, Eduarda Syhara Rocha Matos, Lívia Cunha Rios, Manoel Odorico de Moraes Filho, Maria Tereza Pinto Medeiros Dias e Zenilda Vieira Bruno.

A SÍNDROME ‒ Também conhecida como agenesia vaginal, a síndrome de Rokitansky é considerada rara. Ocorre na proporção de 1 para cada 4.000 ou 5.000 nascimentos femininos e provoca alterações no útero e na parte interna da vagina, tornando o canal vaginal muito curto ou inexistente. Externamente, não há diferença em relação a uma vagina normal. Por isso, embora exista desde o nascimento da pessoa, o problema geralmente só é percebido na adolescência, devido a fatores como a ausência de menstruação.

A forma tradicional de fazer a construção do canal é a utilização de parte da pele da virilha da própria paciente. “Só que é uma cirurgia estigmatizante, pois deixa cicatrizes grandes, além de ser um procedimento de longa duração, com muitos riscos de complicações”, explica o Prof. Leonardo Bezerra.

No método desenvolvido na MEAC, cujo primeiro caso é relatado no artigo, a cirurgia é realizada abrindo-se um espaço entre a vagina e o ânus, forrando-o com a pele de tilápia. Após o procedimento, coloca-se um molde com formato de canal vaginal (também revestido com pele de tilápia), impedindo que as paredes da neovagina se fechem. Após alguns dias, o molde é removido e o canal está formado.

“Por incrível que pareça, a pele de tilápia se transforma no epitélio vaginal”, diz o Prof. Leonardo Bezerra. Ou seja, com o tempo, a prótese biológica se torna idêntica à pele da vagina, com as mesmas células e mesmas características funcionais e anatômicas, possibilitando inclusive que as pacientes tenham relações sexuais normalmente.

AS PESQUISAS – A pele de tilápia é objeto de ampla pesquisa na UFC. Os estudos são coordenados pelo Prof. Odorico de Moraes (coordenador do NPDM) e pelo médico Edmar Maciel, presidente do Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ) ‒ ambos estão entre os autores do estudo publicado na Fertility and Sterility. Além da eficácia no tratamento de queimados, a pele de tilápia também tem sido aplicada com êxito em cirurgias ginecológicas. Recentemente, em procedimento também inédito no mundo, a pele foi usada na reconstrução vaginal após a redesignação sexual de uma paciente trans . Atualmente, há estudos sobre o uso do material em seis países, com 43 projetos de pesquisa em andamento.

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