domingo, 14 de julho de 2019

LIVRO - LANÇAMENTO

Editora Estação Liberdade participa de projeto múltiplo focando a crise da democracia

O esgotamento do neoliberalismo e a ascensão de governos autoritários; Renato Janine Ribeiro assina a contribuição brasileira   

A proposta de uma discussão internacional e plurieditorial vem responder aos questionamentos diante dos acontecimentos políticos recentes. O livro "A grande regressão: um debate internacional sobre os novos populismos – e como enfrentá-los", organizado por Heinrich Geiselberger, reúne contribuições de quinze autores consagrados, incluindo Zygmunt Bauman, Nancy Fraser, Bruno Latour e Slavoj Žižek, e um artigo inédito de Renato Janine Ribeiro.

O começo do século XXI deixou claro: a globalização neoliberal fracassou. Não chegamos ao “fim da história” e ao auge do progresso humano, e sim testemunhamos os riscos anunciados se verificando um a um: terrorismo internacional, mudanças climáticas, crises financeiras, aumento da desigualdade e grandes movimentos migratórios.

As democracias e o establishment neoliberal falharam em atingir soluções para essas questões globais. Neste vácuo, demagogos e populistas ascenderam ao poder, degradando e vulgarizando o discurso público e minando as instituições democráticas. Partidos e sentimentos ultranacionalistas, xenófobos e racistas estão experimentando renovado prestígio, força e voz. Teorias conspiratórias se espalham e passam a figurar como verdade.

Os artigos de Arjun Appadurai, Zygmunt Bauman, Donatella della Porta, Nancy Fraser, Eva Illouz, Ivan Krastev, Bruno Latour, Paul Mason, Pankaj Mishra, Robert Misik, Oliver Nachtwey, César Rendueles, Wolfgang Streeck, David Van Reybrouck, Slavoj Žižek e Renato Janine Ribeiro buscam entender as raízes desses desenvolvimentos, localizando-os em seus respectivos contextos históricos, sociais e geográficos, aliando história, sociologia, ciência política, economia, psicologia e crítica cultural, e oferecendo novas formas de pensar e fazer a democracia.

O livro levanta questões como: por que a globalização está causando uma fadiga da democracia (Appadurai); como dar continuidade à integração humana (Bauman); como movimentos de esquerda e de direita nasceram dos mesmos descontentamentos (della Porta); por que o establishment nos levou a um impasse democrático (Fraser); como Israel trocou sua vocação universalista pelo fundamentalismo (Illouz); como a democracia está sendo subvertida em alguns de seus aspectos fundamentais (Krastev); como evitar destruir nossa Terra (Latour); como a cultura da classe trabalhadora foi cooptada pelo capital (Mason).

Ou ainda: como ajustar nossa visão sobre a democracia do presente e do futuro (Mishra); como traduzir ideias progressistas para a política (Misik); quais as características dos atuais processos de descivilização (Nachtwey); como o fracasso do neoliberalismo engendrou o momento presente (Rendueles, Streeck); como renovar a democracia na União Europeia (Van Reybrouck); como o populismo sobrepujou a racionalidade capitalista (Žižek); o que o sentido da História pode nos dizer sobre o futuro do Brasil (Janine Ribeiro).

Essas e outras discussões estão em A grande regressão, uma intervenção fundamental para todos que estão preocupados com tais mudanças e se perguntam de que forma responder aos desafios sem precedentes que se apresentam para as democracias progressistas e para o internacionalismo global.



PONTOS DE INTERESSE
  • Os artigos, produzidos quase todos especialmente para a coletânea, compõem um diagnóstico multidisciplinar do atual momento da geopolítica global.
  • Os especialistas reunidos são nomes de destaque e de grande atuação, que contribuem regularmente para o debate público com livros, colaborações na mídia internacional e atuação acadêmica.
  • O ensaio inédito de Renato Janine Ribeiro coloca a história recente do Brasil em diálogo com os grandes movimentos políticos dos últimos séculos, pensando nossa trajetória e possíveis rumos para o futuro.
REPERCUSSÃO
“[...] uma antologia atual e excelente.”
Caroline Fetscher, Der Tagesspiegel

“As diferentes perspectivas oferecidas por autores de panos de fundo diversos proporcionam uma ampla gama de elementos a serem considerados quando tentamos entender o que está acontecendo com as nossas democracias. […] uma boa leitura para acadêmicos e o público geral, e pode ser um interessante ponto de partida para nossas próprias reflexões e considerações sobre as mudanças políticas recentes.”
Elisa Pannini, London School of Economics Review of Books

“Como ser um internacionalista quando se é empregado ou trabalhador hoje, já que a globalização é sinônimo de fluxos financeiros e renúncia à soberania? Este é, sem dúvida, um dos destaques do livro. Os autores querem entender antes de julgar.”
Nicolas Truong, Le Monde


TRECHOS
 
“Possivelmente, a grande regressão agora observada é o resultado de uma combinação de riscos da globalização e do neoliberalismo: os problemas resultantes da falta de condução política na interdependência global atingem sociedades que não estão preparadas para isto institucional e culturalmente.
Este livro quer retomar a discussão sobre a globalização dos anos 1990 e prossegui‑la. Cientistas e intelectuais manifestam‑se aqui sobre questões urgentes: Como chegamos a esta situação? Onde estaremos daqui a cinco, dez ou vinte anos? Como deter a regressão global e invertê‑la? Trata‑se de uma tentativa de estabelecer, frente a uma 'Internacional dos Nacionalistas', algo como uma esfera pública transnacional [...] " [p.16, do prefácio de Heinrich Geiselberger]

"Precisamos repensar a relação entre líderes e seguidores nos novos regimes populistas que nos cercam. Nossos meios de análise tradicionais nos levam a imaginar que correntes sociais de destaque na esfera política têm a ver com coisas tais como carisma, propaganda, ideologia e outros fatores, todos inferindo a forte ligação entre líderes e seguidores. Hoje, é claro que líderes e seguidores estabelecem conexões, mas elas se baseiam nas coincidências parciais e acidentais entre as ambições, ideias e estratégias dos líderes e os temores, feridas e ódios de seus seguidores. Os líderes que ascenderam nos novos movimentos populistas têm estilos tipicamente xenófobos, patriarcais e autoritários." [p. 19, “Fadiga da democracia”, Arjun Appadurai]

"O neoliberalismo progressista mistura ideais de emancipação truncados e formas de financeirização letais. Foi exatamente essa mistura que sofreu a rejeição total dos eleitores de Trump. Destacam‑se entre os abandonados nesse valente mundo cosmopolita os operários, sem dúvida, mas também os gerentes, os pequenos empresários e todos que se fiavam na indústria do Cinturão da Ferrugem e do Sul, bem como as populações rurais arrasadas pelo desemprego e pelas drogas. Para essas populações, a ofensa da desindustrialização é agravada pela afronta do moralismo progressista, que tem o hábito de retratá‑los como atrasados no quesito cultural. Ao rejeitar a globalização, os eleitores de Trump também repudiaram o cosmopolitismo liberal que remete a ela." [p.83, “Neoliberalismo progressista versus populismo reacionário: a escolha de Hobson”, Nancy Fraser]

“A cultura de resistência ao capital transformou‑se, para alguns, em cultura de revolta contra a globalização, a migração e os direitos humanos. O que nos trouxe até aqui não foi apenas o fracasso econômico do neoliberalismo, mas também o colapso de uma narrativa. Por sua vez, a paralisia da esquerda vem não de sua incapacidade para fazer a crítica da economia de livre mercado, mas do equívoco em não se envolver adequadamente na batalha narrativa que a extrema‑direita está travando. O exame minucioso dessa batalha narrativa não tem nada a ver com a tese pós‑modernista clássica, em que o signo precede a coisa significada. É, na realidade, questão de vida ou morte para a social‑democracia.” [p. 151, "Vencendo o medo da liberdade", Paul Mason]

“Os efeitos da revolução intelectual de que o neoliberalismo se fez acompanhar não foram menos abrangentes. O colapso do comunismo, filho ilegítimo do racionalismo e humanismo iluministas, levou os analistas da imprensa, assim como os políticos e empresários, a supor que a democracia e o capitalismo à moda ocidental haviam resolvido o moderno enigma da injustiça e desigualdade. Segundo essa visão utópica, uma economia mundial que estivesse assentada sobre o alicerce dos mercados livres, da competição e do empreendedorismo individual seria capaz de amenizar as diferenças étnicas e religiosas e promover a prosperidade e a paz em escala universal. Quaisquer obstáculos irracionais à difusão da modernidade liberal, como o fundamentalismo islâmico, acabariam por ser erradicados.
Agora, porém, esse consenso do pós‑guerra fria está em ruínas.” [p. 180, “A política na era do ressentimento: o tenebroso legado do Iluminismo”, Pankaj Mishra]

“Tudo o que uma história predatória fez contra as dimensões trabalhista, social e ambiental desnudou‑se. A desigualdade, projeto cuidadosamente nutrido de sociedade, a corrupção e o patrimonialismo, projetos meticulosamente elaborados de Estado, tornaram‑se evidentes. (Sustento que desigualdade e corrupção existem porque foram planejadas; que o Brasil não é um fracasso na igualdade, na justiça social, na honestidade com os dinheiros públicos, mas um sucesso na desigualdade, na exclusão social, na corrupção.) A vantagem disso é que não há mais como esconder de nós a cara por vezes horrível, desfigurada, do que poderia ser a grande democracia dos trópicos. Teremos de agir. Máscaras, como a da democracia racial, a da sociedade acolhedora, estão sendo arrancadas.
                É difícil enfrentar estas dolorosas verdades sobre nosso País. Por isso mesmo, parte substancial da sociedade brasileira preferiu fingir que não tem parte nisso. Reagiu e reage com práticas de ódio. Será preciso restabelecer o diálogo, a conversa, a calma, a paciência.” [p. 332, “O Brasil voltou cinquenta anos em três”, Renato Janine Ribeiro]
O PROJETO
A GRANDE REGRESSÃO foi pensado como um fórum de debate transnacional. A obra já foi traduzida para 15 idiomas. O debate segue acontecendo em http://thegreatregression.eu

Sumário
Prefácio, Heinrich Geiselberger
Fadiga da democracia, Arjun Appadurai
Sintomas à procura de um objeto e um nome, Zygmunt Bauman
Política progressista e regressiva no neoliberalismo tardio, Donatella della Porta
Neoliberalismo progressista versus populismo reacionário: a escolha de Hobson, Nancy Fraser
Populismo ou a crise das elites liberais: o caso de Israel, Eva Illouz
Futuros majoritários, Ivan Krastev
A Europa como refúgio, Bruno Latour
Vencendo o medo da liberdade, Paul Mason
A política na era do ressentimento: o tenebroso legado do Iluminismo, Pankaj Mishra
Coragem para ousadia, Robert Misik
Descivilização — sobre tendências regressivas nas sociedades ocidentais, Oliver Nachtwey
Do retrocesso global aos contramovimentos pós-capitalistas, César Rendueles
O retorno dos reprimidos como início do fim do capitalismo neoliberal, Wolfgang Streeck
Caro presidente Juncker, David Van Reybrouck
A tentação populista, Slavoj Žižek
O Brasil voltou cinquenta anos em três, Renato Janine Ribeiro

SERVIÇO
Título: A grande regressão: um debate internacional sobre os novos populismos — e como enfrentá-los
Autores: Heinrich Geiselberger (org.), Arjun Appadurai, Zygmunt Bauman, Donatella della Porta, Nancy Fraser, Eva Illouz, Ivan Krastev, Bruno Latour, Paul Mason, Pankaj Mishra, Robert Misik, Oliver Nachtwey, César Rendueles, Wolfgang Streeck, David Van Reybrouck, Slavoj Žižek e Renato Janine Ribeiro
Tradução: Silvia Bittencourt (alemão), Alexandre Hubner, Débora Landsberg (inglês), Luciano Vieira Machado (francês), Sérgio Molina (espanhol)
Formato: 14 x 21 cm / 352 páginas
ISBN: 978-85-7448-303-0
Lançamento: 13/8/2019
Preço: R$ 59,00

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