quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

CINEMA

"As crônicas de Nárnia 3D" foca no público infantil e nos amantes dos efeitos especiais

Se você é fã de As Crônicas de Nárnia e desde 2008 aguarda o terceiro filme, baseado em um dos sete romances do livro, não vá ao cinema para assistir As Crônicas de Nárnia - A Viagem do Peregrino da Alvorada com tanta sede ao pote. Os escritos do irlandês C.S.Lewis, que venderam mais de 120 milhões de cópias em todo o mundo pelo mix de mitologia grega e nórdica com contos de fadas, além de um certo apelo cristão, novamente foram adaptados para as telonas numa linguagem infantil, por vezes boba e com um toque de humor no estilo Sessão da Tarde.

O longa relata o retorno de Edmundo (Skandar Keynes) e Lúcia (Georgie Henley) à Nárnia, sem os irmãos Pedro e Susana, e com a inconveniente companhia do primo Eustáquio (Will Poulter). O trio é conduzido à terra de Aslam e surge no mar, próximo ao Peregrino da Alvorada, embarcação conduzida pelo Rei Cáspian (Ben Barnes) que está em busca dos sete fidalgos que foram enviados para desbravar o oceano oriental. Edmundo e Lúcia são recebidos como realezas pela tripulação, enquanto Eustáquio reluta para aceitar que está em um mundo paralelo. Durante a viagem, o grupo passa por diversas ilhas em busca das espadas dos fidalgos, pois somente com todas juntas seria possível acabar com os feitiços que assombram as terras desconhecidas e estabelecer a paz nos locais.

A obra original é envolvente, mas a imaturidade artística dos protagonistas empobreceu a técnica e deixou a narrativa, por alguns momentos, sonolenta. Os atores, que tiveram um hiato de dois anos para aperfeiçoar seus trabalhos, pelo visto não fizeram o dever de casa e aparecem apáticos, com expressões pouco convincentes e, às vezes, constrangedoras. A exemplo disso temos o ator Ben Barnes, intérprete do Rei Caspian, mais experiente do quarteto principal, que deveria liderar o elenco infantil, mas derrapa de forma impressionante ao ponto de manter o semblante da mesma forma do começo ao fim do filme.

Ainda sobre o tema elenco, vale traçar um comparativo em relação às sagas cinematográficas de Harry Potter e Crepúsculo, que também nasceram de seus respectivos livros. Os produtores destas tramas apostaram em atores pouco conhecidos ou até mesmo estreantes, que foram se aperfeiçoando ao longo das produções e hoje são perseguidos e venerados por multidões, o que não acontece com os protagonistas de Nárnia. Além disso, o sucesso nas telonas impulsionou as vendas dos livros das demais sagas, muito diferente desta adaptação.

O filme, em 3D, é recheado de efeitos especiais, mas a qualidade é questionável. Em um determinado momento da história, algumas pessoas são encaminhadas para o "sacrifício" em uma ilha. Elas entram em um bote, navegam pelo mar e surge uma nuvem verde que faz elas desaparecerem, causando certa comoção na população local. Mistérios a parte, esta tal nuvem verde não emerge de forma natural, como se realmente fizesse parte da natureza local. O efeito aplicado é tosco, parecido com o de um desenho animado do início da década de 90.

Há erros cenográficos também. Após a 14ª noite enfrentando chuva e mar revolto em busca da Ilha de Ramandu, o Peregrino da Alvorada se movimentou bastante, chacoalhou muito... mas no quarto em que Lúcia dorme, o castiçal permanece imóvel em cima da mesa. Não só ele, como todos os outros bibelôs do local. Algo impossível diante da enorme movimentação da embarcação ao longo do período informado.




Na cena final, talvez a de maior emoção do longa, quando o rato RipChip decide abandonar sua espada e ir para a terra de Aslam, Edmundo e Lúcia se despedem de Caspian e do leão por não poderem mais retornar à Nárnia devido à idade, surge mais um erro técnico. Aslam dá um grande sopro no mar e abre um portal para que os garotos voltem para casa. Eles se posicionam em frente à passagem e fica perceptível o uso do cromaqui. A impressão que dá é que o trio está em frente a uma grande tela, na qual se reproduz um portal com a passagem de água. Mais um efeito tosco, não convincente, que não deveria ser aplicado à produção de um dos maiores clássicos da literatura cujo orçamento passa longe de ser modesto.

Vale lembrar que a Disney desistiu da franquia de Nárnia após o segundo filme, As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian, pois esse e seu antecessor, As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, tiveram grandes erros nas produções, que refletiram nas bilheterias, tornando-se dois grandes fracassos cinematográficos. A Fox assumiu a responsabilidade de dar uma nova vida à saga, mas manteve o processo e repetiu as falhas anteriores, o que torna mínima a possibilidade de haver o quarto filme baseado no livro.







Veterano Wes Craven recicla fórmulas em 'A Sétima Alma'

Wes Craven é um dos poucos diretores especializados em terror que teimam em contrariar a crítica e conseguem agradar a muitos. Criador de A Hora do Pesadelo (1984), ele foi responsável pela franquia Pânico (1996), quando se tornou um ícone do gênero. Mas, apesar do seu sucesso, poucos entendem o seu progresso.

Quando colocou nas telas o personagem Freddy Krueger, não havia como saber a franquia que sairia dele. Quando se dispôs a dirigir roteiros que não eram seus, como a série Pânico, fez-se também produtor para ganhar dinheiro. Agora, em A Sétima Alma, ele é responsável por cada segundo que se vê na tela. Seja como roteirista, diretor ou produtor.

Mas o resultado é dúbio. Ao falar de um assassino em série esquizofrênico que, por meio de uma crença pouco racional, passa suas personalidades para crianças nascidas na data de sua morte, restam questionamentos elementares.

A história começa quando Abel (Raúl Esparza) pede socorro ao seu médico, pois suas seis outras personalidades (incluindo aí, a de um assassino) começam a tomar conta dele. Ao matar também sua mulher, o transtornado rapaz acaba por assassinar outros incautos pelo caminho, até a sua aparente morte. É aí que nascem sete crianças.

O corte é rápido. Depois de 16 anos, os sete comemoram os seus aniversários. Em uma numerologia aceitável apenas no contexto do filme, explica-se que as tais personalidades só aparecem aos 16 porque é 1+6, daí 7 (almas). Está dado o pressuposto para um deles começar a matar.

Adam, ou "Bug" (Max Thieriot, de Jumper) é o protagonista e o primeiro a ver que há alguma coisa errada acontecendo. Afinal, não há porque duvidar dele, quando todos à sua volta estão sendo esfaqueados, como há 16 anos.

Não há como negar que Craven conheça certa sutileza adolescente para envolver o espectador nesse mundo. Mais do que isso, sabe manter um bom suspense sobre quem realmente é o assassino - vital para a trama. Porém, nota-se que o roteiro perde força no desfecho da trama.



A Sétima Alma é um respeitável filme de Wes Craven. Há suspense, sangue, terror. Mesmo que este diretor não tenha apreço particular pela precisão na história que conta. O que vale é o medo e a tensão do espectador. Entretanto, há uma falha quando a conclusão é menor do que tudo o que se viu até então.

De uma escola antiga, Craven, como já disse, é um daqueles diretores que idealiza como público-padrão um casal que se agarre no cinema quando há um susto. Ele pode ser nostálgico, mas seu filme é ideal para isso.







Amizade e internet

'A Rede Social' conta mais que a história do Facebook


>Cantor Justin Timberlake participa do filme

“A Rede Social” é um filme que não deixa espaço entre você e o personagem- e ao contrário do que você imagina, a produção não conta apenas como surgiu o site de relacionamento Facebook – discute também os valores morais, de amizade, dinheiro – mesmo mostrando apenas um lado do verdadeiro jogo que está por trás do filme. A absorção é completa e vai se criando a partir de um roteiro inteligente, uma montagem brilhante e, acima de tudo, personagens cujas fissuras de personalidade que estão em todos nós. E se o filme se vende pelo fator Facebook, pode acreditar que ele se ergue justamente porque se emancipa de seu contexto temporal.

O novo trabalho de David Fincher é primoroso em juntar o quebra-cabeças de um personagem cujo caráter parece ser tão fragmentado quanto a rede social que ele criou. Mark Zuckerberg, conhecido até hoje sob a legenda de "criador do Facebook", é construído no filme como um rapaz mimado, egocêntrico, genial e, claro, inábil em criar laços sociais distante da internet. A interpretação na mandíbula tensionada de Jesse Eisenberg é eletrizante, digna de atenção das premiações porvir. Os diálogos rápidos, quase frenéticos, saem de seus olhos. A velocidade do raciocínio é requisito fundamental para essa interpretação e Eisenberg não perde nem o passo, nem o fôlego. Acompanhar tudo isso pode ser, aliás, vertiginoso.
Fincher, mestre em lidar com personagens tão inteligentes quanto perturbados (a mencionar Seven - Os Sete Crimes Capitais, de 1995 e O Clube da Luta, de 1999), encontra em Zuckerberg sua nova aberração de estimação. Conduz então seu personagem em dois tempos, intercalando a sequência cronológica dos fatos com os dois processos na Justiça respondidos por Zuckerberg, ambos o acusando de tomar só para si algo que teria sido criado por muitos. Assim como na história real na qual o filme se sustenta, há controvérsias em absolutamente todas as alegações que vemos em cena. E esses pontos em que o limite da propriedade intelectual se torna difuso ajudam a construir personagens volúveis e, portanto, concretos.
A edição desses dois tempos é um dos pontos altos do filme e nos carrega por uma história tensa, densa e propensa a nos engolir em total imersão cinematográfica. A fotografia é sóbria, não está ali para sobrepor mensagens, mas em determinado momento, mais ou menos dividindo o filme em duas partes, ela chama atenção em uma cena onde vemos uma competição de remo filmada naquela lente tilt shift em que o foco preciso num determinado ponto transforma uma cena aberta numa quase ilusão, como se a imagem real fosse, na verdade, uma maquete. Nesse único momento em que a foto se faz mensagem grifada, Fincher nos fala de como as pessoas podem ser tão reais quanto os avatares de suas sociabilidades virtuais.

Todos os elementos do filme parecem estar em sincronia com a mensagem do diretor, a começar pelo elenco. Além de Eisenberg, se destaca a interpretação sempre bem acima da média de Andrew Garfield, ator britânico que aqui vive Eduardo Saverin, o "Wardo" co-fundador do Facebook. Até mesmo Justin Timberlake consegue se esforçar em um quase plausível Sean Parker, mais conhecido como o criador do Napster. Timberlake só erra quando tenta reproduzir ele mesmo - o pop star - no personagem que, pensamos nós, parece ter sido desenhado para arroubos de celebridade. Portanto, não destoa da proposta do filme em dar uma aguda verossimilhança aos seus indivíduos.

Na semântica Facebook, o status de relacionamento entre A Rede Social e seu espectador é de casamento completo. E ainda que não tenha a intenção de nos vacinar de uma moral da história, saímos do filme com a impressão que o mundo está cada vez mais lá fora, e que nossa virtual construção de identidade se dilui em mensagens falsamente verdadeiras sobre quem somos e de quem, de fato, chamamos de amigos. Mas para saber da história verdadeira, da vida real, não acesse o site Facebook, ou o filme “A Rede Social”. É só consultar o Google. Fácil como um clic.



Na semântica Facebook, o status de relacionamento entre A Rede Social e seu espectador é de casamento completo. E ainda que não tenha a intenção de nos vacinar de uma moral da história, saímos do filme com a impressão que o mundo está cada vez mais lá fora, e que nossa virtual construção de identidade se dilui em mensagens falsamente verdadeiras sobre quem somos e de quem, de fato, chamamos de amigos.








INVASÃO 3D

Confira as datas de estreias dos filmes nesta temporada de fim de ano nos cinemas


> "Tron- O Legado" e "As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada" - algumas das produções que chegam em versão 3D





Após o lançamento mundial do novo filme de Harry Potter - a primeira parte da adaptação para as telas do último livro do mágico britânico - iniciou a temporada de fim de ano nos cinemas, com seis semanas de duração e perdendo apenas para o verão no Hemisfério Norte em termos de venda de ingressos e lançamentos.

Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1 deve reinar absoluto nas bilheterias, assim como os seis filmes passados da série, que arrecadaram US$ 5,4 bilhões juntos.



Mas Harry Potter não é a única grande franquia do cinema que terá lançamento na temporada de fim de ano. E os cinemas deverão receber grandes filmes em 3D – em Fortaleza os cinemas Multiplex UCI Ribeiro Iguatemi, Via Sul, Pátio Dom Luís, North Shopping e Benfica já dispõem de salas de exibição para filmes com efeitos em terceira dimensão. As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada estreia em 10 de dezembro no Brasil e exterior e terá versão em 3D, enquanto a comédia Entrando Numa Fria Com as Crianças, da franquia Entrando Numa Fria, chega às telas internacionais em 22 de dezembro, com Ben Stiller e Robert De Niro revivendo sua desastrada relação genro/sogro. Desta vez, há crianças envolvidas na confusão.



Também chegará ao cinema a esperada sequência do sucesso de 1982 Tron - Uma Odisseia Eletrônica, que receberá uma grande atualização tecnológica no lançamento, em 17 de dezembro, de Tron: O Legado.



O filme ressuscita uma franquia que deve continuar no futuro e terá versão em 3D.

Clássicos contos de fadas também sofrerão atualizações durante a temporada de fim de ano. Em 24 de novembro, Rapunzel terá sua adaptação da Disney em Enrolados, um musical em animação 3D que atualmente lidera a bilheteriia nos EUA. A garota com os longos cabelos loiros escapa de sua torre pela primeira vez e entra em uma aventura de descobrimento próprio e romance. "Rapunzel é uma jovem destemida", afirmou a atriz Mandy Moore, que faz a voz da personagem. "Ela nunca colocou os pés no chão em 18 anos, mas está disposta a entrar no desconhecido, porque tem um sonho. Claro, ela também descobrirá que o que a torna especial não são necessariamente apenas os cabelos."



Também em 24 de novembro, o Natal chega mais cedo com a história de O Quebra-Nozes, de E.T.A. Hoffmann, no qual se baseia o famoso ballet de Tchaikovsky. O conto volta em O Quebra-Nozes 3D, com Elle Fanning.



Mas essas não são as únicas menções a clássicos contos de fada.

A Tempestade, de William Shakespeare, ganha uma reviravolta de gêneros em 10 de dezembro, quando Helen Mirren estrelar o papel principal, Próspera.

Em 22 de dezembro, As Viagens de Gulliver, do escritor do século 18 Jonathan Swift, também ganhará uma adaptação moderna em 3D, recontada com o comediante Jack Black como um funcionário dos correios transportado em um mundo de fantasia habitado por pessoas minúsculas, incluindo personagens interpretados por Emily Blunt e Jason Segel.

Em 17 de dezembro, o desenho animado Zé Colmeia também ganha vida em uma aventura animada em 3D.

As vozes de Zé e Catatau são feitas por Dan Aykroyd e Justin Timberlake, respectivamente, com Anna Faris e Tom Cavanagh entre os humanos com quem eles interagem.















'Skyline - A Invasão' investe tudo nos monstros

Filme é uma das novidades em cartaz no Multiplex UCI Ribeiro Iguatemi e circuito

Irmãos e cineastas, Colin Strause e Greg Strause acumulam cerca de 60 créditos como desenhistas de efeitos visuais, em grandes produções como Avatar, 2012 e X Men Origens - Wolverine, todos de 2009. Eles uniram-se a dois outros parceiros da mesma área técnica, Joshua Cordes e Liam O'Donnell, os quais assinam como roteiristas a ficção científica Skyline - A Invasão, dirigida pelos irmãos Krause. O filme estreIU em cópias dubladas e legendadas. É de se esperar que, dada a formação destes quatro envolvidos, a maior preocupação esteja nos efeitos visuais, especialmente na criação dos temíveis alienígenas que tomam Los Angeles de assalto. Pilotando naves gigantescas, eles atraem os humanos com raios de luz azul e devoram impiedosamente os habitantes da cidade.
Ilhados num luxuoso apartamento, os amigos Jarrod (Eric Balfour) e Terry (Donald Faison) haviam se reencontrado há pouco tempo. Bem-sucedido no mundo da música pop, Terry quer que o amigo deixe Nova York e venha trabalhar com ele em Los Angeles. O plano parece em suspenso, agora que os alienígenas ameaçam liquidar a cidade - e não se sabe o que acontece além de suas fronteiras, porque as emissoras de televisão saíram do ar. Embora, curiosamente, o fornecimento de luz continue.
Duas mulheres estão no apartamento, a esposa de Terry, Candice (Brittany Daniels), e a namorada de Jarrod, Elaine (Scottie Thompson) - que acaba de descobrir que está grávida. Um detalhe que não só cria tensão entre o casal como terá um sinistro desdobramento mais adiante na história.



A construção do roteiro é mínima. Os personagens se movimentam no espaço do apartamento, tentando escapar da visão de seus inimigos, além de controlar os suprimentos, que começam a escassear. Tudo indica que há poucos sobreviventes ao massacre e as perspectivas de uma expedição fora do prédio são as piores possíveis. Uma tentativa de escapar de carro resulta num enorme susto e algumas baixas.
Contando com um elenco em sua maioria vindo de séries de televisão - caso de David Zayas, de Dexter, que interpreta um zelador -, o filme não aposta muito no desenvolvimento dos personagens, que parecem meros pretextos para que os monstros do espaço os persigam, criando sequências de ação e novos efeitos especiais. A bem da verdade, nem tão sofisticados assim.
Pode-se enxergar uma série de referências a outras produções do gênero, como os sucessos Independence Day, Guerra dos Mundos e, particularmente, Aliens - com cujos monstros estes daqui se parecem muito. Mas não há, de modo algum, a qualidade com que se podia contar naqueles exemplares. Skyline - A Invasão é explicitamente uma produção B, visando consumo rápido, possivelmente, de um público nada exigente. Ainda assim, os diretores foram ambiciosos, criando um final que aponta para uma sequência - com tudo para ser do mais puro horror.







'Megamente' faz do vilão o protagonista

Desenho que estreia nos cinemas em 3D pretende mostrar o que acontece quando a história é contada "pelo outro lado"


Os heróis que se cuidem, seus momentos de glória podem estar para terminar. Em Megamente, a nova animação da DreamWorks, esses momentos duram muito pouco, apenas alguns minutos. Na maior parte do tempo, quem fica sob os holofotes é, surpreendentemente, o vilão. Não é à toa que o filme leva o seu nome.
Sob a direção de Tom McGrath - o mesmo de Madagascar - a animação pretende mostrar o que acontece quando a história é contada "pelo outro lado". Desta vez, não é mais o violão quem fica em segundo plano e aparece sempre furtivamente, só para atrasar o andamento da história. Isso é função do herói. Trazendo essa nova versão à tona, é possível perceber outra teoria embutida no roteiro, de Alan Schoolcraft e Brent Simons: o bem não vive sem o mal, e vice-versa.
No filme, o bem é representado por dois heróis, Metro Man e Titan. O primeiro, dublado por Brad Pitt na versão original e por Thiago Lacerda no Brasil, chega a lembrar Elvis Presley, ao esbanjar simpatia e confiança aos cidadãos de Metro City, que o admiram com veemência. Já o segundo, faz o tipo trapalhão, e é fruto de uma experiência que, definitivamente, não deu certo. No centro das atenções, Megamente faz o mal reinar pela história de forma desastrada e divertida, contando com a ajuda de seu fiel ajudante, o Criado, uma fusão de peixe, gorila e robô que acompanha o protagonista desde a infância. Todos esses personagens, com exceção do Criado, mantêm uma relação amorosa, às vezes não correspondida, com Rosane, uma corajosa jornalista que funciona como fio condutor por toda a história.
Tudo começa quando Megamente e Metro Man, seres de planetas que seriam destruídos, são enviados por seus pais para a Terra através de cápsulas de escape. Megamente, infortuno vilão, aterrissa em uma prisão. Metro Man, herói de sorte, vai parar em uma confortável casa de família abastada. A situação, no entanto, não dura por muito tempo. Quebrando os estigmas de que os heróis vão crescendo ao longo da trama e que as grandes batalhas são guardadas para o final, a animação põe Megamente e Metro Man em confronto logo de início, e dá a vitória ao protagonista.



Em Megamente, o vilão só ganha espaço graças ao seu carisma, capaz de cativar até os mais bonzinhos. Quanto mais quer ser levado a sério, tentando seguir padrões comportamentais de vilões tradicionais, mais Megamente pode arrancar gargalhadas do público, que, invariavelmente, se identifica com o protagonista. O estilo é típico de McGrath, que já disse ser um grande adorador de vilões, desde Darth Vader até Capitão Gancho. Para ele, os vilões são os personagens que têm as personalidades, figurinos e bordões mais interessantes.
Se todos os diretores passarem a pensar como McGrath, é bom que os heróis se reinventem, ou o mal, finalmente, vai reinar.
















Woody Allen faz uma comédia café com leite em novo filme

Woody Allen tem dessas coisas, quase sempre acerta, dificilmente erra e às vezes, bem, às vezes ele emplaca a coluna do meio. Pois bem, com Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, Woody está longe de conseguir fazer um filme chato ou brilhante. Fica naquele meio de caminho em que muitas vezes se encontram os bons piadistas quando caem em suas mãos piadas mais ou menos. Ou seria as piadas mais interessantes que os piadistas?

Em qualquer combinação, fato é que com sua nova comédia decorada pelas paisagens londrinas, o diretor, conhecido por ver em nossos fracassos fonte inesgotável para sua fina ironia judia, reúne personagens cujas derrotas pessoais dificilmente atingem aquele limite do absurdo, o momento em que, de fato, o fracasso se faz piada. Salvo, claro, nobre exceções - a citar a carismática senhora carente feita pela brilhante Gemma Jones e o escritor de uma obra só interpretado por Josh Brolin, bastante coerente em seu papel de macho beta de uma mulher alfa.

A tecelagem da trama se constrói da seguinte forma: Helena (Gemma Jones) acaba de se divorciar de Alfie (Anthony Hopkins), que pediu a separação legal após ter descoberto os benefícios de pílulas azuis e alguns satisfatórios exames médicos de rotina. Andando sobre esse abismo da solidão após décadas de casamento, Helena precisa de uma voz amiga. Nada melhor que uma vidente bem remunerada para legitimar a reconfortante ideia que dias melhores virão.

Sally (Naomi Watts), filha de Helena, apoia a mãe em sua resolução de "o futuro a gente compra" e, enquanto tenta lidar com os novos interesses paranormais da família, precisa decodificar um possível flerte entre ela e seu novo chefe (Antonio Banderas) e simultaneamente encarar a sombra de um marido (Josh Brolin) que 1) ainda não lhe deu filhos e 2) não paga as contas da casa. Em suma: Roy, um ex-proeminente escritor, parece ser um item supérfluo à casa. Ciente de seu status zero à esquerda, ele espia pela janela do quarto uma chance de começar tudo de novo, como se a irresponsaibilidade de uma nova paixão pudesse curar sua ineficiência criativa.



A moça do outro lado do edifício se chama Dia (Freida Pinto) e, como todas as moças que se espia pela janela, ela é completamente desavisada das angústias de seus secretos admiradores.

Em outras palavras: na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença e, principalmente, na aventura ou no tédio, todos sempre procuram alguém para chamar de seu. O argumento não é novo à filmografia de Woody Allen. Há de se dizer, aliás, que esta incessante busca de cada um por suas respectiva tampa está na base dos melhores trabalhos do diretor. O que acontece neste filme é que Allen picota vários enredos interessantes em pequenos contos café com leite. A voz narradora, tão bem usada em Vicky Cristina Barcelona, ainda tenta nos dar esse distanciamento irônico do contador de histórias, mas não consegue desfazer a impressão de cada um dos personagens acima citado poderia um pouco mais.


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