quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

RÁDIO

Entrevista inédita com Chico Science vai ao ar neste domingo (5), na Universitária FM

Hoje, dia 2 de janeiro, se completam 23 anos de sua morte

No próximo domingo (5), às 17h, o programa Zumbi – O Rap, da Universitária FM 107,9 (http://www.radiouniversitariafm.com.br), celebra sua transmissão de número 50 com uma entrevista inédita com o músico pernambucano Chico Science, ex-vocalista da banda Nação Zumbi, falecido em 1997.

A entrevista estava guardada nos arquivos pessoais de Thaís Aragão, produtora cultural da Universidade Federal do Ceará, e conectará os ouvintes às influências e processos criativos de Da lama ao caos, apontado como um dos mais importantes álbuns da música brasileira.

Thaís Aragão conversou com Chico Science em 1996, em uma das passagens da banda Nação Zumbi por Fortaleza. O programa Zumbi – O Rap de domingo (5) também comemora os 25 anos do lançamento de Da lama ao caos, álbum de estreia de Chico Science e Nação Zumbi, o primeiro da efervescente movimentação cultural denominada Manguebeat.

Além da entrevista, o especial trará depoimentos de Lorena Calábria, José Teles e Guga de Castro, jornalistas que cobriram e testemunharam o nascimento e desdobramento da cena cultural pernambucana nos anos 1990.

Os rappers Diomedes Chinaski e Jonas de Lima também participam da edição. A sonoplastia conta ainda com sons gravados pelo artista Thelmo Cristovam, com microfone subaquático utilizado na Ponte Princesa Isabel, no Centro do Recife.

"Quando saiu o livro de Lorena Calábria em setembro de 2019, em função dos 25 anos de Da lama ao caos, lembrei que talvez aquele registro que eu tinha feito na adolescência pudesse ainda existir e ser relevante. Como isso se confirmou, surgiu o especial, em que aproveitamos para dialogar com gerações mais jovens de estudantes de Jornalismo da UFC, algo que eu mesma era, quando conversei com Chico Science em 1996", conta Thaís Aragão. As estudantes Theresa Rachel e Calianne Celedônio fazem parte da equipe que produziu o programa radiofônico.


Ícone do Mangue Beat
Era final de domingo, quase no carnaval. Pernambuco já estava em festa e os foliões pulavam de bloco em bloco, quando um carro fechou outro na rodovia PE-1, que liga Recife à Olinda, e bateu em um poste. O que poderia ser uma mera estatística de trânsito resultou em um acidente fatal que dividiu a cultura pernambucana ao meio. Quando Chico Science perdeu o controle do Fiat Uno que dirigia e saiu da estrada no dia 2 de fevereiro de 1997, selou o fim de uma biografia que foi a força-motriz de um dos movimentos mais instigantes do fim do século passado, o mangue beat. Resgatado ainda com vida por um policial, sua morte foi acontecer longe da estrada, no Hospital da Restauração, chocando toda a população pernambucana e os amantes da música brasileira tanto no país quanto no exterior.
Chico Science era o gatilho que a década de 1990 — muito mais do que o Recife — precisava. Ele verbalizava mudanças que encontravam eco em artistas tão diferentes quanto Skank, Raimundos, Pato Fu e Planet Hemp. Enquanto Fred Zero Quatro era o teórico do movimento à frente do Mundo Livre S/A, Chico puxava sua Nação Zumbi para o centro dos holofotes no país. Escrevendo de acordo com a cartilha tropicalista, ele reforçava o choque entre os extremos, a miséria do mangue e a alta tecnologia; a vida rural e a cidade grande, África, Caribe e o eixo Londres-Nova York. Tudo era sintonizado no Recife. A metáfora da antena enfiada na lama era a imagem perfeita da própria influência de Chico Science na música brasileira.

"Modernizar o passado é uma evolução musical". Assim ele abria o primeiro disco, contrapondo alfaias, bateria, guitarra psicodélica e baixo de reggae, puxando letras que soavam como raps, repentes ou toasts. O canto falado de Francisco de Assis França era uma de suas marcas registradas, como o chapéu coco de palha, os óculos de surfista, o colar de terreiro, o sorriso maníaco e o carisma instantâneo. Era um líder nato, especializado em abrir alas. Ultrapassou o movimento armorial ao misturar beats de música eletrônica e riffs de guitarra africana à ortodoxia recente dos blocos de maracatus.

Sua morte repentina, um mês antes de completar 31 anos, foi um baque pesado na cena pernambucana. De repente, a Nação Zumbi não tinha seu principal nome, o Mundo Livre S/A via-se sem o contrapeso e grupos como Cumadi Fulozinha, Mestre Ambrósio, Sheik Tosado, DJ Dolores, Eddie e Jorge Cabeleira e o Dia Em Que Seremos Todos Inúteis começam a seguir seus próprios rumos, sem a liga central puxada por Chico. Foi o momento em que o formato mangue passou a ser copiado por bandas que nem eram do Pernambuco e a cena local entrou em um processo de reavaliação que só conseguiu sair a partir da virada do século.

SERVIÇO
Especial Zumbi #50 – Entrevista com Chico Science e 25 anos de Da lama ao caos

Estreia: 5 de janeiro, às 18h
Reprise: 12 de janeiro, às 18h
Onde: Universitária FM 107,9 (http://www.radiouniversitariafm.com.br)

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