quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

As perspectivas dos CEOs sobre crescimento, ameaças, prioridades estratégicas e investimentos

Um terço dos CEOs no Brasil e no mundo não acredita que suas organizações serão economicamente viáveis em dez anos caso se mantenham no rumo atual – o que exige investimentos urgentes na transformação dos seus negócios. Ao passo que devem transformar o futuro, a maioria lida com as questões de curto prazo.
Os resultados da 26ª Global CEO Survey ilustram a profundidade dos desafios – e o que fazer para gerar oportunidades – à frente dos líderes empresariais hoje. De um lado, a grande maioria considera vital reinventar seus negócios para o futuro em um mundo de disrupção e inovação. De outro, eles se mobilizam para enfrentar um cenário atual com instabilidade econômica global, inflação, rupturas nas cadeias de suprimento e conflitos geopolíticos.
No Brasil e no mundo, 73% dos CEOs acreditam que a economia global sofrerá uma desaceleração nos próximos 12 meses. Apesar disso, uma parte importante dos CEOs de alguns países prevê que suas economias locais terão trajetória contrária e também acredita no crescimento da receita de suas empresas – especialmente os brasileiros. Este duplo imperativo – encarar o presente e ao mesmo tempo se transformar para o futuro – os coloca em uma encruzilhada inédita que exige ação imediata.
Neste relatório, apresentamos os resultados da pesquisa para a indústria de Energia e Serviços de Utilidade Pública (EU&R, na sigla em inglês). Os dados foram organizados em três dimensões: os desafios atuais; a preparação para o futuro; e a agenda necessária para se atingir um equilíbrio entre o curto e o longo prazos e transformar as dificuldades em oportunidades.

Tensões atuais
Os desafios imediatos em meio a condições macroeconômicas incertas, aumento da inflação, instabilidade geopolítica e ameaças crescentes, como as relacionadas à cibersegurança.

A corrida pelo futuro
A necessidade de se antecipar aos riscos de longo prazo para as suas empresas, a sociedade e o planeta – como a disrupção dos modelos de negócios e os riscos climáticos.

Uma agenda equilibrada
A missão do CEO de lidar com os desafios atuais e ao mesmo tempo investir no futuro, impulsionando a transformação e a integração a ecossistemas que criem valor, viabilizando a sustentabilidade do negócio.

Tensões atuais - Expectativa em relação à economia
Os CEOs da indústria de EU&R no Brasil estão mais pessimistas em relação à economia global do que a média dos CEOs no Brasil e no mundo. Apenas 5% acreditam em uma aceleração da economia, um quadro oposto ao do ano passado, quando 80% tinham essa expectativa. Os executivos da indústria estão bem mais otimistas em relação ao próprio país (59%) do que a média global (29%), embora em um nível abaixo da média no país (66%).

Expectativa dos CEOs em relação à economia nos próximos 12 meses
A confiança no crescimento da receita de suas empresas para os próximos 12 meses aumentou em relação ao ano passado: 73% dizem estar extremamente ou muito confiantes, contra 53% na pesquisa anterior. É um otimismo maior do que a média no Brasil (60%) e no mundo (42%). Na perspectiva de três anos, porém, a confiança dos líderes de EU&R no país diminui, embora a maioria ainda esteja extremamente ou muito confiante (59%).

Crescimento em outros países
Em relação aos mercados considerados mais relevantes pelos CEOs de EU&R no Brasil para o crescimento de suas empresas, os Estados Unidos e a China têm lugar de destaque, assim como acontece na visão geral dos líderes brasileiros.

A corrida pelo futuro
Ameaças que mais preocupam
Os conflitos geopolíticos preocupam mais os CEOs de EU&R no país nos próximos 12 meses (46%) do que a média dos líderes brasileiros (23%). Na edição passada, as mudanças climáticas estavam entre as maiores preocupações dos CEOs da indústria: 48% consideravam que o clima poderia afetar negativamente as empresas em 2022; agora são 35%.
No horizonte de cinco anos, os CEOs de EU&R no país afirmam que as mudanças climáticas e os conflitos geopolíticos são as maiores preocupações, ambos apontados por 38% dos entrevistados. Já a inflação, segundo maior motivo de inquietação dos CEOs da indústria para os próximos 12 meses (41%), preocupa menos na perspectiva de cinco anos (22%).
Perguntados sobre os fatores que mais podem afetar a lucratividade nos próximos dez anos, 73% dos CEOs de EU&R no país citaram a transição para novas fontes de energia, quase o dobro da média do Brasil (38%). Em seguida, vêm as mudanças na regulação, também apontadas como o segundo maior fator de preocupação na média nacional.

Questões ESG
Quase três quartos dos líderes de EU&R no país (71%) esperam que o risco climático tenha um efeito de moderado a extremo sobre sua cadeia de suprimentos nos próximos 12 meses — mais do que a média no Brasil (44%). 60% esperam que o clima afete de forma moderada a extrema o perfil de custos (ante 45% no Brasil) e 25% acreditam que os ativos físicos poderão ser impactados dessa forma (ante 20% no resultado geral para o Brasil).
Adotar a prioridade e o ritmo adequados para mitigar os riscos climáticos, gerar oportunidades e descarbonizar são desafios estratégicos. De modo geral, as empresas de EU&R no país se mostram mais avançadas do que a média brasileira em relação a iniciativas climáticas. Por exemplo, 84% já implementaram ou estão implementando iniciativas para reduzir suas emissões, em comparação com 63% da média nacional.
Muitas empresas parecem estar elaborando estratégias sem considerar a precificação interna das emissões de carbono: 32% dos CEOs da indústria (50% na média brasileira) dizem que não têm planos de implementar um preço interno do carbono em seu processo de tomada de decisões, embora isso seja importante para antecipar eventuais impostos, tarifas e incentivos, assim como entender melhor suas externalidades.

Uma agenda equilibrada
Investimentos
Para reinventar seus negócios para o futuro enquanto enfrentam os desafios do presente, os CEOs precisam equilibrar prioridades, em um exercício que se estende à alocação dos recursos. Acompanhando o resultado da pesquisa entre os CEOs no Brasil, os líderes de EU&R concentram o investimento principalmente em automação de processos e sistemas, upskilling da força de trabalho e implantação de tecnologias avançadas (nuvem e IA, por exemplo).

Em busca de resiliência
Em resposta aos desafios de curto prazo, os CEOs da indústria de EU&R no país dizem que estão tomando medidas para cortar custos e buscar fornecedores alternativos. Apenas 19% estão congelando contratações, menos do que a média no Brasil (28%), e 14% estão reduzindo sua força de trabalho (19% no Brasil).

Ecossistema de colaboração
A diversidade e a complexidade dos desafios de negócios atuais estão valorizando a capacidade de colaboração com o ambiente externo à empresa. Para ter uma ideia dessa dinâmica, perguntamos aos CEOs como eles estabelecem parcerias – com quem e com quais objetivos.
As empresas trabalham com uma ampla rede de parceiros e o objetivo mais comum dessas relações é buscar novas fontes de geração de valor, como novos produtos e novos mercados.
Na indústria de EU&R no Brasil, as instituições acadêmicas são as parceiras mais frequentes, citadas por 35% dos entrevistados. Para a média das empresas brasileiras, essas instituições aparecem na segunda colocação, atrás de empreendedores ou startups.
É com as ONGs que as empresas de EU&R no país, estabelecem mais parcerias para resolver questões socioambientais, como as relacionadas às mudanças climáticas ou à desigualdade. Na média brasileira, esse é um objetivo de colaboração mais comum com empreendedores ou startups e ONGs.
Educação e desenvolvimento sustentável são os temas mais relevantes das parcerias estabelecidas pela indústria na área socioambiental.
Nossa experiência no desenvolvimento e aplicação de estratégias ESG mostra que as organizações são mais capazes de gerar lucro e ao mesmo tempo exercer impacto social positivo quando encaram a construção de parcerias e ecossistemas com rigor e profundidade. Os CEOs precisam vincular suas organizações a uma identidade e uma área de foco ESG antes de formalizarem seu compromisso.

Confiança, liderança e o diálogo no C-level
A confiança ajuda instituições e indivíduos a “ir longe juntos” – e a transformar o futuro, encarando o presente. A CEO Survey do ano passado mostrou uma relação estatisticamente relevante entre a confiança do consumidor e o desempenho financeiro. Os dados da pesquisa também sugeriram que as empresas confiáveis tinham um foco no longo prazo. Elas tendiam mais a ter compromissos Net Zero e resultados não financeiros (como engajamento de profissionais e representação de gênero, raça e etnia) vinculados à remuneração dos executivos.
A crescente importância da confiança está estreitamentevinculada à mudança na natureza da liderança diante da maior complexidade do relacionamento com os stakeholders; à necessidade cada vez maior de o setor privado ajudar a resolver problemas sociais importantes; à ruptura do consenso pós-Guerra Fria em torno dos mercados abertos e do comércio internacional livre, com a ênfase crescente em interesses nacionais em detrimento de interesses globais; e à intensificação das tensões geopolíticas e sociais. Os CEOs têm tido papéis de destaque e muitas vezes participam dessas mudanças em maior grau do que muitos de seus subordinados diretos.
O diálogo aberto com as equipes de gestão sobre as implicações dessas forças para a liderança pode ajudar a fortalecer e dar mais autonomia aos diretores executivos, para que os CEOs possam se dedicar mais a reinventar o futuro – um desejo manifestado por eles na nossa pesquisa.
Esperamos que as questões aqui apresentadas enriqueçam esse diálogo, empoderando os líderes e suas organizações para superar o status quo, vislumbrar o progresso e se reinventar para o mundo que estão ajudando a criar.

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