A ARTE DE SEGIANE CABRAL
Artista plástica que reside no Ceará foi convidada para expor no Museu do Louvre em Paris
Segiane lançou Curso de Desenho, apresentará exposições em Fortaleza nos próximos meses e faz campanha para conseguir patrocínios na internet
Segiane
de Jesus Cabral: não é à toa que ela tem o sobrenome de Deus. Seu
trabalho artístico é divino e singular. Aos 47 anos, esse talento
prodígio, com energia de uma moça e charme propagado por seus lindos
olhos verdes, começou a desenhar muito
cedo, segundo seus pais. ”A idade que meus pais relatam é que eu tinha 2
anos de idade, quando eu desenhei uma palavra. Eu escrevi a palavra
doutor”, afirma Segiane ao BLOG DIVIRTA-CE.
“Eu não sabia ler. Eu não sabia nada, eu simplesmente vi um livro em
cima da mesa e vi uma palavra, uma caligrafia. Eu achei aqueles
contornos tão bonitos e eu reproduzi igual ao que eu vi”, explica a
artista. “Meu pai me viu fazendo isso e enlouqueceu. Achou que era
mentira. Aquela reação dos pais que eu recebi quando eu desenhei aquela
primeira palavra foi primeiro enunciado que me abriu o caminho das
artes. Nunca mais eu parei de desenhar”, completou. Com uma carreira
promissora, Segiane
Cabral foi convidada para expor no Carrossel do Museu do Louvre, de 18 a
23 de outubro, e está em plena campanha para adquirir patrocínios e
poder aceitar esse convite para mostrar suas obras em um dos museus mais
importante do mundo. Para conseguir o dinheiro necessário para viagem,
ela lançou um Curso de Desenho, fará exposições, como a mostra “Novos
Olhares para Mona Lisa”, a partir do dia 17 de setembro, no Museu da Indústria. Também está programada uma exposição de Segiane Cabral na Galeteria do Léo, novo restaurante da Aldeotaque tem como proposta manter uma programação cultural. Qualquer um pode ajudar a artista a realizar este ho de representar a arte brasileira no Museu do Louvre: ela está com uma campanha de arrecadação de doações no site Kickante, onde qualquer pessoa pode contribuir (https://www.kickante.com.br/campanhas/arte-segiane-cabrall-em-paris).
SEGIANE CABRAL -
Comecei a desenhar aos 2 anos de idade... eu não sabia ler. Eu não
sabia nada, eu simplesmente vi um livro em cima da mesa e uma palavra,
uma caligrafia. Eu achei aqueles contornos tão bonitos e eu reproduzi
igual ao que eu vi. Então meu pai me viu fazendo isso e enlouqueceu.
Chamou minha mãe, que perguntou “mentira, foi você que fez?”. E eu: “sim
mamãe, foi eu”, peguei e fiz de novo. Ela viu e a partir daí os elogios
que eu ganhei com esse acontecimento me fizeram quem eu sou hoje. Eu
não parei nunca mais de desenhar porque eu queria receber aquela
surpresa, aquele comportamento, aquela reação dos pais que eu recebi
quando eu desenhei aquela primeira palavra. Então vamos dizer que esse…
primeiro enunciado me abriu o caminho das artes. Nunca mais eu parei de
desenhar.
DIVIRTA-CE - E como foi essa infância e juventude permeada por “desenhos”?
SEGIANE CABRAL -
Depois desse primeiro “trabalho”, comecei a desenhar nas paredes, no
chão, nas roupas de cama. Minha mãe tinha uma colcha azul-escuro de
tecido lisinho, eu me lembro até hoje eu desenhava lindamente ali...
(risos). Eu pegava as pedrinhas de calcário, não tinha giz, não tinha
nada, eu morava em fazenda, então eu saia colecionando tudo que era
pedrinha colorida pra riscar nas paredes, no chão. Eu riscava na colcha
da minha mãe, e tinha um sonho de pintar nas telas que às vezes eu
assistia na televisão…
SEGIANE CABRAL - Eu
era criança, devia ter uns tinha 7, 8 anos e eu ficava pensando que um
dia eu iria pintar…Mas eu não sabia que material era, porque o que eu
conhecia, que produzia cor, era pedrinha de cal, de cascalho, rochas. Eu
saia colecionando, rochas, carvões, aqueles de fogueira mesmo. Eu
catava e saía riscando tudo. Eu fui ter contato com tinta em 1993, aos
21 anos; eu era casada naquela época, e este marido me pagou um
cursinho, aí eu fui descobrir o que era pincel, o que era tinta. Esse
curso foi em Rio Verde, Goiás. A professora é Iraci Roquette. Sou fã
dela até hoje, uma artista maravilhosa. Comecei a pintar com ela, um
curso de seis meses. A minha relação com as cores foi muito orgânica. E
depois eu saí do curso, porque eu não podia continuar pagando. Foram
três meses de pintura e três meses de conhecimento básico do desenho e
da História da Arte e suas vertentes.
DIVIRTA-CE
- Depois desse curso, você continuou se aprimorando em Goiás? Como foi
que você chegou em Fortaleza depois desse curso?
SEGIANE CABRAL -
Logo depois do curso eu fiquei sabendo de um concurso que o banco BEC
do estado de Goiás promoveu. Com esse concurso, conheci uma porção de
artistas, fiquei amiga de alguns… Em especial, que eu sou amiga até
hoje, o Carlos Alberto dos Santos, cujo nome artístico é Cacá Feld.
Nós passamos nesse concurso, eu fiquei em terceiro lugar, o Cacá ficou
em segundo, e uma outra pessoa ficou em primeiro. Essa foi a minha
primeira participação real em algum concurso artístico e me motivou a
continuar pintando em casa. Pintei muitas telas, vendi várias delas,
presenteei algumas a amigos e familiares, mas não participei de mais
nenhuma exposição ou concurso. Em 1999, eu descobri o Flávio Capitulino
e fiz um curso com ele que me aproximou com mais intensidade das artes
novamente. Sonhei que aprenderia muito se eu fizesse o curso de
restauração. O Flávio é um restaurador de artes consagradas, brasileiro
que mora em Paris, paraibano. Foi quando eu vim para o Nordeste, fui
fazer o curso com ele em João Pessoa. Da Paraíba, fui morar em
Fortaleza.
SEGIANE CABRAL - O artista que me motivou a morar em Fortaleza foi o Ricardo Tavares. Eu o conheci no curso do Flávio Capitulino.
Ricardo é um pintor eclético que domina vários estilos artísticos como
renascimento, barroco, impressionismo, expressionismo... Ele foi pra
Suíça logo depois que eu o conheci. Mas foi o suficiente pra eu vir a
Fortaleza conhecer o cenário artístico daqui. Conheci Vando Figueiredo, Claudio Cesar (que Deus o Tenha), Fernando França, Rian Fontenele, Narcelo Grud
e vários outros excelentes artistas... Conheci vários outros artistas,
inclusive o Zé Guedes, uma grande referência. O tempo passou, e eu, de
2008 a 2012, fiz faculdade de Artes Visuais pela Unifor.
A partir daí a minha maior referência passou a ser os movimentos
artísticos criados a partir do grupo Deriva e o pessoal da galeria Multiarte. Eu conheci o Max Perlingeiro, a Bia Castelo, o filho deles, o Vitor Perlingeiro. Eu faço parte da segunda turma que entrou pra formação de Artes Visuais na Unifor.
mas eu me formei junto com a primeira turma - eu alcancei o pessoal.
Acelerei as cadeiras e cursei, terminando junto com a primeira turma. Eu
fui uma aluna modelo, por eu morar mais na faculdade do que em casa
(risos).
DIVIRTA-CE – Desde então você participou de uma série de concursos e exposições...
SEGIANE CABRAL – Sim.
Em 2002, fui premiada no concurso de pintura promovido pela 10ª Região
Militar de Fortaleza. Em 2005, também fui premiada, desta vez no
concurso Universidart,
da Faculdade Integrada do Ceará (FIC). Em 2007 participei de uma mostra
coletiva da Associação dos Artistas Plásticos do Ceará na Faculdade Christus. Já em 2008 fiz minha primeira exposição individual internacional, no Liceu em Betanzos, na Espanha. No ano seguinte participei de uma coletiva, com o Grupo Comunicativismo,
no SESC Iracema e Centro Dragão do Mar. Em 2010 fui premiada na Mostra
Brasil França, pela Universidade de Fortaleza. Participei de duas esposições em 2011: "Arte à Deriva”, no Centro Dragão do Mar, e “Mestres e Aprendizes” , na Unifor. Em 2012 fiz outra exposição na Unifor: "Mulheres de XX". Essas são algumas das referências do começo da minha carreira.
DIVIRTA-CE - Quem são os artistas e movimentos que você admira, que te influenciam e são referências?
SEGIANE CABRAL -
Olha eu sou apaixonada pela arte impressionista. Eu gosto de uma paleta
colorida, iluminada mesmo. Gosto muito do Renascimento. Fiz algumas
pinturas do Renascimento, do Barroco, mas são artes que são obras mais
escuras, uma paleta mais penumbra. Mas eu prefiro aquela coisa
iluminada, que tenha luz própria. E que tenha muita vida, que agrega
muita expressão pictórica, pelo volume, pela cor, pela profundidade. A
pintura pode ter muita matéria, mas pode ser lisa, fininha, mas que você
consiga uma profundidade além do que se vê, entende? Não é 3d, porque o
3d é uma ilusão em três dimensões. É uma ilusão de ótica diferente, mas
é uma profundidade, vamos dizer, quase que espiritual. Claude
Monet (pintor francês), Edgar Degas (pintor e escultor francês),
Pierre-Auguste Renoir (pintor francês), Édouard Manet (pintor francês), Berthe Morisot (pintora francesa), Alfred Sisley (pintor franco-britânico), Lovis Corinth (pintor e escultor alemão), Ferdinand Hodler (pintor suíço), Max Liebermann (pintor alemão), Teodoro Andreu (artista gráfico e pintor espanhol), Giovanni Boldini (pintor italiano), Santiago Rusiñol (pintor e dramaturgo espanhol) são algumas das mimhas
influências e referências. Também gosto do Van Gogh, uma referência
pela dramaticidade que ele carregava nas pinturas. E sou fã do Jackson
Pollock (pintor americano). Ele é um artista mais do acidente, do acaso
entende? Então ele jogava lá a tinta e deixava aquele acaso trazer uma
informação de volta.
DIVIRTA-CE
- As pessoas questionam muito o que é arte. Pra você, o que é arte e o
que não é, ou pra você tudo pode ser arte? Depende da interpretação do
espectador?
SEGIANE CABRAL - É
uma pergunta bem polêmica: o que é arte? Hoje em dia esse conceito de
contemporaneidade da arte é imenso. Eu acho que a arte não tem que ter
exatamente uma função, mas de certa forma ao mesmo tempo, é
contraditório sim. A função seria provocar o seu inconsciente, ou te
fazer refletir, fazer sentir alguma coisa, despertar alguma
reminiscência talvez, e que te agrega algum valor, que tem alguma
serventia nesse sentido. Não só contemplativa. Seja qual for a linguagem
artística, ela tem que ir além dessas barreiras. Se ela for só
contemplativa, ela fica vazia. “Ai que lindo, que bonito”. Nada mais?
Ela tem que ser intrigante o suficiente para te “aprisionar” por mais
tempo. Aprisionar sua atenção, vamos dizer assim.
DIVIRTA-CE - Quais são as maiores dificuldades do artista plástico brasileiro na atualidade?
SEGIANE CABRAL - Acompanho
em 18 anos, muitas situações, muitos artistas, e às vezes noto que
existe uma certa “panelinha”, que torna difícil os artistas novos se
sobressaírem. Temos o Salão de Abril que dá muita oportunidade, mas eu
ainda vejo muito pouco abertura, principalmente para os novos artistas
em início de carreira. Imagine eu que nasci no interior, né, longe do
público da arte, de recursos, de tudo! Foi realmente difícil para mim.
Acho que se tivesse mais apoio por parte do governo, e das empresas
seria melhor. A gente conseguia fazer com que essa sociedade que não
conhece a gente, que vem de um lugar diferente, possa nos ver também...
SEGIANE CABRAL -
Pois é, tudo começou com a ideia de fazer uma exposição em Miami e
outra em Paris. Eu fui convidada para expor sob curadoria de Heloisa
Azevedo, no Carrossel, no Museu do Louvre. Eu fiquei muito emocionada,
lógico. Miami fui convidada por ela também, só que na galeria Heclectik
Art. Mas não tenho nenhum respaldo financeiro, por isso estou fazendo
uma campanha na internet e recebendo doações de amigos para financiar
minha viagem. O curso que estou lançando, qualquer um pode comprar e
baixar na internet. É um ebook de Desenho a Lápis. Esse curso é
direcionado para iniciantes, mas também artistas que queiram se
aprimorar, ter um desenho melhor, um desenvolvimento maior. Para
adquirir o curso, basta ir no site (desenhoalapis.com) que vai te levar
pra nossa página de vendas, onde a pessoa vai ver o que o livro tem, o
conteúdo do curso.
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