sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Médico cearense denuncia presidente do Conselho Federal de Medicina por "pesquisa" sobre vacinas para atender ao fascismo genocida de Bolsonaro

Ele aponta erros éticos, falhas de metodologia, risco à saúde pública e quebra de sigilo de dados de médicos

Uma "pesquisa" realizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) para "entender a percepção dos médicos brasileiros sobre a obrigatoriedade da vacinação contra a covid-19 em crianças de 6 meses a 4 anos e 11 meses”, oferece grave risco à saúde pública e contribui para a deseducação da população sobre vacinas. 
Com essa avaliação, o médico infectologista cearense Roberto da Justa, professora da Universidade Federal do Ceará e integrante do Coletivo Rebento - Médicos em Defesa da Vida, da Ciência e do SUS, apresentou nesta sexta-feira, 12/1, denúncia ao Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), contra o presidente do CFM, José Iran da Silva Gallo, solicitando a imediata suspensão da "pesquisa" e questionando a iniciativa tomada pelo conselho, que na última terça-feira, 9/1, postou em seu site oficial notícia sobre a citada "sondagem", além de enviar e-mail aos médicos inscritos de todo o país, convidando-os a participar online.
O Coletivo Rebento, a Rede Nacional de Médicos Populares-CE e a Associação Brasileira de Médicos e Médicas pela Democracia (ABMMD-CE) também prometem em breve se manifestar quanto ao tema, através de nota pública.
"A pesquisa está eivada de problemas, de natureza ética, de natureza técnica, com graves problemas metodológicos e certamente também possui nessa iniciativa, inclusive viéis ideológicos, uma vez que desvia o foco das atenções nesse momento em que as crianças estão com baixa cobertura vacinal para Covid. E traz à tona uma discussão menor, que é com relação a obrigatoriedade, quando na verdade o que deve ser enfatizado é a disponibilidade, o acesso, o direito à vacinação, a segurança e a eficácia que essa vacina tem, que já foi robustamente comprovada através de estudos. E o Conselho Federal de Medicina, através dessa pesquisa, tenta desviar a atenção para uma questão menor", avalia Roberto da Justa.
"O alegado objetivo da 'pesquisa' é '...enriquecer esta análise e contribuir para a tomada de decisões futuras', não deixando claro que possíveis decisões seriam essas", aponta o texto de denúncia encaminhada pelo médico cearense Roberto da Justa à Dra. Lívia Vanessa Ribeiro Gomes Pansera, presidente do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal. O atual presidente do CFM tem CRM (registro do Conselho Regional de Medicina) do Distrito Federal.
"Tanto na matéria publicada no site do CFM como no e-mail enviado não há qualquer menção a aprovação de protocolo em Comitê de Ética em Pesquisa, não há solicitação de preenchimento de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), não há qualquer esclarecimento detalhado sobre a natureza da pesquisa, justificativa, metodologia, plano amostral, critérios de inclusão ou exclusão", ressalta, em sua denúncia, o médico cearense.
O dr. Roberto da Justa registra na denúncia que foi inclusive surpreendido com o fato de outra pessoa ter respondido à "pesquisa" em seu lugar, utilizando tão somente o número de seu CRM e de seu CPF. 
"Em seguida, surpreso com a informação de possível vulnerabilidade e vazamento do meu código de validação, eu mesmo acessei a 'pesquisa' e realizei o preenchimento até o final. Constatei que o código de validação é gerado na própria plataforma, quando deveria ser enviado por e-mail", aponta o infectologista cearense.   
"A vulnerabilidade e possibilidade de fraude, além do vazamento de código de validação de qualquer médico/a nesta 'pesquisa', passaram a ser constatadas e divulgadas amplamente em redes sociais. Circulam em grupos códigos de validação de médicos e autoridades", acrescenta Roberto da Justa, na peça de denúncia encaminhada à presidente do CRM-DF.
"Relatos circulam nas redes sociais de que qualquer pessoa pode votar quantas vezes quiser em nome de qualquer médico ou médica. Concluo que a 'pesquisa' conduzida pelo CFM está ferida de morte, inadequada, com desvios éticos, vulnerável, podendo ser fraudada e infringindo a LGPD", ressalta.
A denúncia apontando que o presidente do CFM teria violado os seguintes artigos do Código de Ética Médica: Princípio Fundamental XXIV ("Sempre que participar de pesquisas envolvendo seres humanos ou qualquer animal, o médico respeitará as normas éticas nacionais, bem como protegerá a vulnerabilidade dos sujeitos da pesquisa"), 100 ( "Deixar de obter aprovação de protocolo para a realização de pesquisa em seres humanos, de acordo com a legislação vigente") e 103,  "Realizar pesquisa em uma comunidade sem antes informá-la e esclarecê-la sobre a natureza da investigação e deixar de atender ao objetivo de proteção à saúde pública, respeitadas as características locais e a legislação pertinente".
Por fim, na peça de denúncia o infectologista cearense solicita "que o CRM-DF envide esforços urgentes para cancelamento imediato da referida 'pesquisa', uma vez que a garantia do sigilo dos respondentes está comprometida, o banco de dados é vulnerável e pode ser fraudado e há indícios de infração à LGPD. Além disso, seus resultados, uma vez divulgados, poderão ensejar riscos à saúde pública".

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