sábado, 12 de outubro de 2024

SHOW/CRÍTICA: Flávio Venturini, Lô Borges e Beto Guedes encantam cearenses com clássicos da MPB

POR DANIEL TAVARES

Show MINEIROS reuniu os artistas no Iguatemi Hall em Fortaleza 

Na noite anterior à festa da democracia em Fortaleza, três candidatos ficaram empatados na eleição de donos das canções mais emocionantes. Flávio Venturini, Lô Borges e Beto Guedes lotaram o Iguatemi Hall trazendo grandes sucessos de suas carreiras (muitos também conhecidos na voz do mestre crooner Bituca, Milton Nascimento) e proporcionaram ao público da capital cearense uma véspera eleitoral cheia de brilho, saudosismo e o aconchego mineirinho. Naquela noite de sábado, 5 de outubro, os mais de 50 anos de um dos mais contundentes momentos e movimentos da música brasileira foram celebrados em uma verdadeira viagem musical, repleta de nostalgia e emoção, que encantou o público presente.
Flávio Venturini abriu a noite com uma seleção de clássicos que aqueceram os corações dos fãs. "Planeta Sonho" e "Canção da América" foram recebidas com entusiasmo, enquanto "Bésame" e "Nascente" trouxeram um toque de suavidade. Venturini compartilhou histórias de suas composições, mencionando colaborações com Luiza Possi (em Beija-Flor) e Caetano Veloso, "Céu de Santo Amaro". "Nestas viagens a gente acaba compondo. Eu tenho muitas canções gravadas no Ceará", disse, citando a parceria com o patrício Ricardo Bacelar. "Noites com Sol" foi concebida em Jericoacoara, visitando a Pedra Furada. A performance de "Azul da Cor do Mar" foi um dos pontos altos, com o público cantando em uníssono. A parceria com Renato Russo em "Mais Uma Vez" destacou-se pela presença extremamente marcante do contrabaixo. Cabe aproveitar a oportunidade para mencionar que o que torna cada show do mineiro um show único é a diversidade de arranjos. Nenhuma canção é um elemento fixo, imutável, com novidades a cada vez que o avião do mineiro toca o solo cearense. A apresentação de "Nossa Linda Juventude" foi um momento especial, com Venturini trocando o teclado pelo violão.
Com a banda inteira se despedindo, pensamos que seria melhor se cada um dos três astros não estivesse com tivesse sido acompanhado de seus próprios músicos de apoio, o que poderia ter sido otimizado com uma banda única, permitindo uma transição mais fluida entre as apresentações. No entanto, com a organização se mostrando bastante eficiente e azeitada, a espera para que Lô Borges, com sua própria banda, não se mostrou um problema por fim. 15 minutos de intervalo, ok, o suficiente para uma ida ao banheiro ou ao bar.
Após este breve intervalo, Salomão Borges, mais conhecido como Lô Borges, subiu ao palco, trazendo sua energia característica. "Trem Azul" e a extremamente prog "Um Girassol na Cor do Seu Cabelo" foram executadas com maestria, com Borges mencionando a saudade de Fortaleza e interagindo com o público, revelando, inclusive que esta última foi feita para sua mãe. O setlist incluiu clássicos do Clube da Esquina, como "Clube da Esquina Nº 2", e canções mais recentes, até mais conhecidas na voz de Samuel Rosa, do SKANK, como "Dois Rios" e "Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor", mostrando sua versatilidade e capacidade de se reinventar. "O Samuel pode me chamar pra tomar um café na casa dele e nasce uma música", disse. A sequência "Vou Ventando Pra Você" e "Tobogã", composta com outra mineira, Fernanda Takai (do Pato Fu) destacou sua prolífica produção musical. Tobogã é o sexto disco em 6 anos. "Esse negócio de parar de compor não é comigo", disse o alegre garoto (de seus já mais de 70 anos de idade). O público vibrou com "Paisagem da Janela" e "Nada Será Como Antes", antes de Borges chamar Venturini e Guedes para uma emocionante interpretação de "Para Lennon e McCartney".
A reunião dos três no palco pareceu um tanto inusitada. Antes do show, boa parte do público pensava que eles se apresentariam juntos, ora um cantando uma das canções eternizadas na memória brasileira, com os outros apenas fazendo backing vocais, ora cantando em dueto ou trio. Já tínhamos entendido que isso não aconteceria assim. A esperança então ficou sendo que se reunissem ao final do show, mas, para surpresa da plateia, já estavam os três ali. E, mal recuperados do "susto", um susto bom, diga-se, logo foram todos embora. Não há o que reclamar dos shows individuais (inclusive, por serem shows separados, tivemos no setlist mais canções que imaginaríamos ver em trio), mas aqueles poucos dois ou três minutos de reunião foram muito pouco diante dos anseios de quem foi ao evento para ver os três grandes mineiros juntos.
Beto Guedes encerrou a noite com sua voz suave e presença carismática. "Balada dos 400 Golpes" e "Espelhos D'Água" abriram sua apresentação, seguidas por "Gabriel", bela declaração de amor jazzística ao filho. A performance de "Quando Te Vi" animou o público, enquanto "Lumiar" e "Sol de Primavera" trouxeram uma atmosfera dourada ao palco. Com a conhecida voz frágil, mal dá para entender o que ele fala quando não canta. Só que elogiou as praias. "Mineiro não tem praia, mineiro só tem montanha", disse. Maria Solidária" e "Feira Moderna" mantiveram a energia alta, culminando em "O Sal da Terra", cantada em coro pelo público. A noite terminou com "Lágrima de Amor", com o palco iluminado em tons de rosa. A essa altura do show, a voz frágil de Guedes já foi completamente embora, tendo o guitarrista de sua banda assumindo os vocais mais desafiadores, mostrando que a música mineira continua viva e pulsante.
O Clube da Esquina, movimento musical que surgiu em Minas Gerais nos anos 1970, é um marco na música brasileira, conhecido por sua fusão inovadora de rock, jazz, música clássica e influências brasileiras. Liderado por Milton Nascimento e os irmãos Borges, o movimento reuniu uma geração de músicos talentosos que redefiniram os rumos da MPB. Suas canções são conhecidas por suas harmonias complexas, letras poéticas e uma profunda conexão com a cultura e paisagens mineiras. Durante o show, essa herança foi celebrada com entusiasmo, mostrando que, mesmo após cinco décadas, a música do Clube da Esquina continua a inspirar e emocionar. Foi realmente uma experiência agradável para todos os presentes, algo que deve se repetir por anos e anos, mas, com mais canções compartilhadas durante a apresentação, assim como foi na própria história de Flavio Venturini, Beto Guedes e Lô Borges.

Setlists:
Flávio Venturini
Planeta Sonho
Canção da América
Bésame
Nascente
Espanhola
Beija-Flor
Céu de Santo Amaro
Noites com Sol
Todo Azul do Mar
Mais Uma Vez
Linda Juventude
Lô Borges
O Trem Azul
Um Girassol na Cor do Seu Cabelo
Dois Rios
Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor
Vou Ventando pra Você
Tobogã
trem de doido
Paisagem da Janela
Nada Será Como Antes
Para Lennon e McCartney (com Flávio Venturini e Beto Guedes)
Beto Guedes
Balada dos 400 Golpes
Espelhos d'Água
Tudo em Você
Gabriel
Quando te vi
Lumiar
Sol de Primavera
Maria solidária
Feira Moderna
Amor de Índio
O Sal da Terra
Lágrima de Amor

Nenhum comentário: