A exposição, que segue em cartaz até dia 30 de março, reúne trabalhos de 115 criadores que refletem sobre os significados de liberdade e de revolução; museu promoverá ação educativa no dia 22
A arte como símbolo de resistência vibrante e corajosa em defesa da democracia é o que apresenta a exposição “Vermelho Vivo - Amor e Revolução”, que segue em cartaz no Museu da Imagem e do Som do Ceará até 30 de março. Com curadoria de Ângela Berlinde, a mostra reúne artistas e pensadores luso-afro-brasileiros que compõem uma teia complexa e multifacetada, formada por 115 criadores, distribuídos entre 65 artistas visuais, 25 autores e editores, e 25 músicos e bandas. A exposição-instalação, concebida no contexto do FotoFestival SOLAR, ocupa diversos espaços do MIS-CE, instituição que integra a Rede Pública de Espaços e Equipamentos Culturais (RECE) da Secretaria da Cultura do Ceará, com gestão parceira do Instituto Mirante de Cultura e Arte.
No dia 22 de março, o museu promoverá a ação educativa “Vermelho Vivo: entre o real e o surreal”, em alusão ao centenário do Movimento Surrealista. A programação é gratuita e conta com 20 vagas mediante inscrição.
Esta mostra integrou a terceira edição do FotoFestival SOLAR, realizado em uma parceria entre a Secult-CE e o Instituto Mirante de Cultura e Arte e aconteceu entre os dias 11 e 15 de dezembro de 2024, mostrando a força da fotografia enquanto manifestação artística interligada com outras expressões do mundo das artes.
Vermelho Vivo
“Esta é uma exposição eminentemente política porque é eminentemente poética”, explica Ângela Berlinde sobre a mostra que permanecerá em cartaz até 30 de março de 2025. Para a curadoria, “Vermelho Vivo” é também “uma revolução, uma instalação total que pulsa como um grande órgão, um coração que vibra sem limites e em plena liberdade”.
As conexões entre as obras costuram significados entre a história recente de Portugal e do Brasil. Nos caminhos múltiplos pelos quais a “Vermelho Vivo” transita há destaque para temáticas diversas como a Revolução dos Cravos em Portugal (1974), o golpe militar no Brasil (1964), os momentos de resistência anticolonial em Moçambique, Angola e Guiné-Bissau, o grito das mulheres portuguesas e brasileiras contra a opressão, as pautas LGBTI e as questões indígenas. Como fios condutores dessas obras estão o anseio humano pela liberdade e a busca persistente por lançar luz contra a obscuridade.
“Este é um movimento vital, feito de amor e revolução, que nos convida a revisitar nossas lutas e conquistas, tecendo histórias de coragem e transformação em um manifesto coletivo de liberdade e dignidade. Porque, na essência, a arte é poesia, e o poema é liberdade”, define um trecho do texto curatorial de Ângela Berlinde.
“Vermelho Vivo” convida o público a vivenciar imagens, poemas, filmes e canções como forma de refletir sobre as ideias de Liberdade e Revolução em um momento de urgência e futuro. Como destaca a curadora, a exposição inflama o valor máximo da liberdade, acentuando a força das lutas e a vibração da revolução. Veja fotos de algumas obras aqui.
A mostra abrange um período de criação contemporânea que vai desde o início dos anos 1970 até os dias de hoje, englobando fotografia, cinema, literatura, performance, escultura e instalação. A exposição coletiva ocupa todas as áreas do MIS-CE, incluindo as salas expositivas, a biblioteca, a sala imersiva e as áreas externas, apresentando uma seleção de artistas que celebram a liberdade e a revolução.
A obra imersiva, por exemplo, foi concebida por um coletivo de artistas luso-brasileiros e busca na poesia do amazonense Thiago de Mello o convite que remete à luta contínua pela liberdade. “Faz escuro mas eu canto" dá título à obra e proporciona uma experiência sensorial imersiva.
O diretor do Museu da Imagem e do Som do Ceará, Silas de Paula, destaca a atualidade dos temas trazidos pela exposição, que entrou em cartaz em um período no qual se faz ainda mais relevante a defesa contínua e vigilante da democracia. “Ao realizar esta exposição, o MIS-CE, em parceria com o FotoFestival SOLAR, defende que a arte também tem um papel fundamental no cotidiano das pessoas ao trazer questionamentos, levantar inquietações e provocar reflexões diárias sobre a liberdade”, avalia.
Ação Educativa - Vermelho Vivo: entre o real e o surreal
No dia 22 de março (sábado), acontece a ação educativa “Vermelho Vivo: entre o real e o surreal”. Em alusão aos 100 anos do Movimento Surrealista e estabelecendo um diálogo com a exposição "Vermelho Vivo - Amor e Revolução", a atividade tem como objetivo explorar as conexões entre o imaginário surreal e o fantástico nas artes visuais, proporcionando uma reflexão sobre como esses movimentos ultrapassam o visível e dialogam com questões mais profundas da condição humana.
Durante a atividade, será proposto um percurso mediado que instiga os participantes a observar, interpretar e questionar os limites entre a realidade e a fantasia, utilizando a exposição como ponto de partida para discussões sobre as manifestações do extraordinário na arte e na vida cotidiana. A abordagem visa promover uma jornada reflexiva e interativa, na qual o público será estimulado a mergulhar no universo surrealista, dialogando com os elementos visuais, temáticos e simbólicos apresentados.
Ao longo do encontro, questões como "O que é real?", "O que é fantasia?" e "Como o extraordinário se manifesta na arte e em nossa rotina?" serão trabalhadas para fomentar uma experiência rica e transformadora, que inspire um novo olhar sobre o mundo e sobre os limites do imaginário.
A atividade acontecerá das 15h às 17h e terá a mediação de Hitalo Pandit, arte educador do MIS. Para esta atividade estão sendo ofertadas 20 vagas, e as inscrições devem ser feitas neste link.
Imaginário da liberdade
A curadoria de “Vermelho Vivo” apresenta a exposição como um movimento vital, feito de amor e de revolução, que convida a revisitar nossas lutas e conquistas, tecendo as histórias de coragem e a transformação em um manifesto coletivo de liberdade e dignidade.
Em um panorama mundial que clama por mudanças, a arte emerge como uma voz de resistência e de transformação. “A arte será sempre, na sua máxima expressão, um gesto político. Ao explorar o imaginário contemporâneo, a exposição nos convida a imaginar futuros”, propõe a curadora. “Precisamos pensar na revolução não como algo nostálgico, mas como algo vivido. Pensar em uma revolução pelo amor”, ressalta.
Ângela Ferreira ( aka Berlinde, Porto, 1975 ) é artista, curadora e investigadora em Fotografia, com Pós Doutoramento em Artes e Poéticas Interdisciplinares pelo PPGAV da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Artista e Co-fundadora do Festival português Encontros da Imagem, é curadora independente em festivais como a Bienal de Beijing, o Korea International Photo Festival e o Goa Photo. Integra a coordenação e direção artística do Fotofestival SOLAR desde sua criação e é fundadora do Nervo Observatório dos Fotolivros, plataforma dedicada à reflexão sobre fotolivros portugueses.
Imagens, poesia, música e política
A intensidade da arte torna-se ainda mais marcante em tempos de ataque às liberdades. Em um contexto político no qual a defesa da democracia se faz urgente, “Vermelho Vivo” é um grito apaixonado, uma resistência vibrante contra as ameaças à liberdade. A exposição dá corpo a uma força que celebra a democracia conquistada em Portugal, a libertação das ex-colônias africanas e, com igual fervor, a coragem do povo brasileiro na luta contra a opressão da ditadura militar.
O percurso de “Vermelho Vivo” retorna às metáforas femininas, que são entendidas como cicatrizes visíveis das opressões que teimam em sufocar direitos e desejos das mulheres. “Contudo, nestas travessias, alcançamos novas curvas, onde a natureza e a ancestralidade ressoam como baluartes de proteção, resistência e perenidade. Para seguirmos adiante, será preciso muito mais que sonhos. Serão indispensáveis talismãs e coragem renovada para nos proteger”, destaca Ângela Berlinde.
Organizada por capítulos, a mostra traz a euforia do movimento revolucionário português que ocorreu nas ruas de Lisboa, com o filme “As Armas e o Povo” (1975) feito a quente, pelo cineasta Glauber Rocha, o primeiro dos artistas brasileiros que viria a acompanhar ativamente a Revolução dos Cravos.
Uma das obras que está na exposição é “1968 o fogo das ideias”, na qual o argentino Marcelo Brodsky atualiza a icônica foto de atrizes brasileiras de mãos dadas e semblante altivo no enfrentamento à censura que a ditadura brasileira impunha ao teatro. A foto emblemática integra o acervo do Jornal do Brasil. O artista traz textos e reflexões poéticas que acompanham as imagens, conferindo profundidade ao relato histórico. “O objetivo é reavivar a memória desse período revolucionário, conectando suas lições às novas gerações por meio de uma linguagem visual e sensorial”, destaca a sinopse.
Em outra obra, “Soft war”, o cartucho de bala transforma-se em batom vermelho. Nela a artista portuguesa Mané Pacheco subverte a ideia de violência ao substituir a destrutiva munição calibre .50 por um batom, mantendo a mesma dimensão. De acordo com a sinopse, “a munição simboliza resistência e luta, enquanto o batom evoca o poder feminino, a liberdade, a sedução e a igualdade de gênero. Referências à revolução não-violenta do "25 de Abril" e ao cravo na ponta da espingarda reforçam a ideia de liberdade e empoderamento. A obra sugere que a luta pela igualdade e liberdade deve continuar”.
A poesia da poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner também integra a “Vermelho Vivo”. A escritora que traz um manifesto ao “dia inteiro e limpo” propõe-se a explorar o imaginário da liberdade e as estratégias oferecidas pela arte contemporânea para o disputar, deslocar e habitar.
“25 de Abril
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo”
Sophia de Mello Breyner Andresen, in ‘O Nome das Coisas’
A curadoria completa-se com músicas que representam resistência e questionamento. A playlist da seleção da pesquisadora portuguesa Paula Guerra traz do brasileiro Chico Buarque “Tanto Mar” (1975), em que se destaca a relevância e os novos ventos trazidos pela Revolução dos Cravos, à contemporânea moçambicana Selma Uamusse e “Hoyo Hoyo” (2020). O título significa bem-vindos em changana, uma das três línguas mais faladas em Moçambique. A playlist está disponível aqui.
SERVIÇO:
Exposição Vermelho Vivo - Amor e Revolução- Últimos dias
Em cartaz até 30 de março de 2025
Horário de visitação:
quartas, quintas e domingos: 10h às 18h, com acesso até 17h30
sextas e sábados: 13h às 20h, com acesso até 19h30
MUSEU DA IMAGEM E DO SOM DO CEARÁ
Endereço: Av. Barão de Studart, 410, Meireles, Fortaleza-CE
Entrada: gratuita.
Acompanhe a programação: @mis_ceara e https://mis-ce.org.br/
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