Ricardo Guilherme apresenta aula espetáculo sobre a ditadura militar no Teatro São José
O título é uma referência à música de Caetano Veloso, tendo a Ditadura Militar brasileira como pano de fundo
O palco do Teatro São José recebe nesta quarta-feira (06/04), às 19h, a aula-espetáculo “É proibido proibir”. Conduzida pelo ator, dramaturgo e diretor teatral Ricardo Guilherme, a obra, de apresentação única, conta com músicas e poesias. "A militância contra a Ditadura Militar de 1964/1968 fez e faz parte da minha formação. Sou da geração dos anos 70, até 80, dessa geração que ao viver a transgressão e encarar a repressão antes e depois do dia 13 de dezembro de 1968 fez a hora e não esperou acontecer. Jovens de esquerda, com as suas diversificadas tendências, estabeleceram no palco, apesar do AI-5, a sintonia com a revolução que estava escrita desde maio nos muros de Paris: "É Proibido Proibir". Porém, no meio do caminho tinha, não uma pedra, mas a arma dos soldados da censura: a tesoura. Que fazer? Não fazer, não dizer. Para que uma peça pudesse ser encenada, durante os chamados Anos de Chumbo, produtores deviam submeter o texto e o espetáculo à censura prévia. E os censores poderiam ver alusões sub-reptícias à União Soviética até mesmo em Shakespeare. Diante da paranóia geral, muitas vezes fazia-se necessário recorrer à desobediência civil", relembra Ricardo.
O espetáculo reconstitui a trajetória da geração de jovens militantes que travaram uma resistência contra a Ditadura Militar no Brasil das décadas 1960, 1970 e 1980.
Promovido pela Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal da Cultura (Secultfor), a peça faz parte da programação cultural do aniversário de 296 anos da capital cearense. O acesso é gratuito, aberto ao público e por ordem de chegada.
Após 1964, e sobretudo de 1968 em diante, até a abolição da censura prevista pela Constituição de 1988, o teatro brasileiro conheceu a barra pesada oficial e oficiosa, inclusive a da ação paramilitar do Comando de Caça aos Comunistas. A classe teatral do Rio, por exemplo, em face de tantas e tamanhas interdições, chegou a apelar para uma greve. E então a ficção atravessou a realidade. Artistas se postaram nas escadarias do Teatro Municipal como se empunhassem brechtianamente os fuzis da senhora Carrar. Não representavam personagens numa história; eram personagens da própria História exigindo Liberdade, Liberdade. Transportavam, assim, a tragédia do palco para a vida. Cumprindo o papel de atores sociais, conscientes de que além da persona há a pessoa. Fortaleza também vivenciou a euforia dessa revolução político- cultural que a edição do AI-5 interditou. Barricadas fechavam as ruas mas abriam o caminho. Em passeatas, caminhando e cantando, multidões de braços dados ou não, evidenciaram a vontade geral contra a vontade do general. Em 1968, no Teatro Universitário (UFC) – um dos epicentros do movimento de contestação ao Golpe de 1964.
Depois, veio a democratização, o fim de um ciclo autoritário, o fim do governo militar. Por vinte anos (1968-1988) - longa jornada noite adentro – bedéis das Forças Armadas, tentaram, feito bombeiros fardados ou à paisana, debelar o fogo sagrado e profano que caracteriza a vocação incendiária inerente à atividade dramática. No entanto, a insubmissão dos artistas, uma vez impossibilitada de abrir trincheiras, pôs-se de tocaia, na encruzilhada, em vigília, deflagrando uma estratégia de resistência. "Minha teatrAula É Proibido Proibir faz uma retrospectiva das idéias e ideais dessa geração a que eu pertenço: a geração que no seu teatro soube refazer a hora para fazer e acontecer", completa Ricardo Guilherme.
Serviço
Aula-espetáculo “É proibido proibir”
Data: 06/04 (quarta-feira)
Horário: 19h
Local: Teatro São José (rua Rufino de Alencar, 299-327 - Centro)
Entrada gratuita
Um comentário:
Icônico e multitalento chamado Ricardo Guilherme, artista da minha terra, de quem sou e sempre serei fã.
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