quarta-feira, 2 de março de 2022

CINEMA/CRÍTICA

O QUE ESPERAR DO NOVO "BATMAN"?
Novo filme tem quase três horas de duração e conta com o ator Robert Pattinson no papel do Homem Morcego

O que você espera quando vai assistir a um filme do Batman no cinema? Ação, emoção, pirotecnia de efeitos visuais? História de superação, grandes vilões? Um espetáculo de entretenimento, sem querer fazer você pensar muito, sem querer ser "cinema de arte"? Nenhum comprometimento enorme com referências peculiares dos quadrinhos, afinal, é uma adaptação? Esqueça!
Depois do imenso sucesso do "Coringa", que deu recorde de indicações ao Oscar e deu o prêmio de melhor ator para Joaquim Phoenix, a Warner parece querer fazer uma "obra prima da sétima arte" neste novo "Batman", com Robert Pattinson como o Homem Morcego, empregando uma nova estética e narrativa que nos leva ao início das atividades do herói em Gotham City. Só que o excesso de "estilo", referências cinematográficas e objetivos de fazer uma versão "noir" de um detetive das ruas, diferente, um "Batman raiz", acaba por descaracterizar o personagem.
Traduzindo: quiseram fazer um filme do Batman "de arte" para ganhar indicação ao Oscar, ou algum tipo de prêmio, ser criativo, inovador e conquistar a crítica especializada, mas esqueceram do mais importante: o entretenimento! O herói será quem tiver a disposição de assistir durante quase três horas um filme com um roteiro previsível e repleto de excessos, com cenas "explicativas" desnecessárias, interpretações medíocres, figurinos de uma pobreza visceral, poucos efeitos visuais e cenas de ação decepcionantes, uma historia soturna. "Batman", de Matt Reeves, é frustrante em quase todos os aspectos. O filme estreia nesta semana nos cinemas, depois de diversas reviravoltas em suas gravações, com protestos pela escolha de Robert Pattinson no papel título, além de paralisações por causa da pandemia e rumores de refilmagens por não atender às expectativas dos produtores da Warner.
Este "The Batman" é tenso, tenta ser realista e diferente demais dos outros filmes e acaba fugindo do fantástico que é o personagem. As pessoas precisam ler para entender as referências do diretor Matt Reeves (de "Cloverfield" e "Planeta dos Macacos), as nuances psicológicas empregadas nesta fase do herói, além de outras informações peculiares ao novo longa metragem para poderem "entender" o porquê do filme ser desse jeito: ruim. Mas nada dessas "inovações" fizeram o roteiro lento, sem graça, sem ritmo e inchado deste "Batman" melhorar. A preguiça na edição do filme é algo notável.
Os cenários foram projetados para passarem a impressão de claustrofobia, priorizando a sujeira, impressão de abandono e escuridão da velha Gotham dos quadrinhos clássicos, o que também causa um desconforto ao espectador - para não dizer sonolência. Acaba fazendo parecer um filme antigo, sem tantos recursos de produção.
No novo "Batman", Bruce Wayne está há pouco tempo como o vigilante mascarado, ainda querendo a "vingança" (ele se autodenomina assim diversas vezes) contra a criminalidade que assola Gotham e que matou seus pais. Quando surge um vilão: o Charada (Paul Dano), que comete assassinatos contra os principais figurões da cidade, sempre querendo a atenção do Homem Morcego. Recebendo ajuda do comissário Gordon (Jeffrey Wright), ele investiga o assassino e acaba sendo muitas vezes discriminado e ridicularizado por sua própria condição de "alegoria do carnaval" pelos homens da lei, com aquela máscara que lembra o herói no seriado dos anos 60. Não dá para colocar o Batman como um simples vigilante, aprendiz de detetive. Não com essa roupa. Nem tentar jogar o Homem Morcego no mesmo universo de "Seven", de David Fincher, nem dos filmes de gangsters do Scorcese. Não combina. O Batman do cinema é herói das crianças também, o que fez a Warner censurar diversas cenas deste novo filme que é repleto de boas intenções, mas não alcança a sua meta.
 Batman recebe ajuda de Selina/Mulher Gato (Zoe Kravitz), que tem interesse na resolução dos crimes do Charada, e troca beijos com ela - tão frios, na mesma temperatura que possui o filme todo - quase uma pedra de gelo, sem química nenhuma. O desenvolvimento dos personagens é tão mal feito como a apresentação desse novo Batman de Robert Pattinson: que não consegue imprimir credibilidade no papel de um homem que tenta superar sua dor para salvar o mundo do mal. Mais parece um doente precisando de remédios e ajuda psiquiátrica para conseguir falar seus monossílabos. Esqueça o herói rico, charmoso, inteligente e comunicativo dos outros filmes. Esse glamour, com toda a riqueza e tecnologia que estamos acostumados a ver no Batman não existem neste lançamento. Esta é mais uma característica "criativa" empregada pelo diretor nesta versão da origem do nosso herói, tirada dos quadrinhos.
O Pinguim feito pelo ator Colin Farrell, debaixo de pesada maquiagem, parece ter sido inserido para o filme seguinte, sem grande importância. Da mesma forma, o Charada de Paul Dano, também não assusta em nada, mesmo com a nebulosa direção de arte e fotografia. Tanto Andy Serkis (o mordomo Alfred), que tem pouca função, e aparece em cenas que poderiam diminuir de dez para dois minutos, como Jeffrey Wright fazendo o comissário Gordon, lembram muito os atores canastrões das novelas mexicanas do SBT. 
Resumindo, "Batman" é um filme que vai agradar àqueles fãs que esperam algo fora do convencional - mesmo que seja  péssimo. Eles farão de tudo para explicar a você por que o filme é desse jeito: longo e monótono. Sendo diferente de tudo, já estão satisfeitos. É um filme cru, grotesco, que acabou descaracterizando o personagem e deverá frustrar o imaginário dos fãs. E essa mudança irá trazer o grande debate, se o filme é "maravilhoso, inovador" (porém muito longo), ou se é chato mesmo. Aí, você decide. Com o herói e os vilões "em formação" neste "Batman", esperamos a sequência ser melhor, se é que ela irá existir. (Por Felipe Palhano)
COTAÇÃO **(Regular)

Nenhum comentário: