segunda-feira, 21 de março de 2022

ARTES VISUAIS

Amarrações Estéticas: artistas indígenas dos Laboratórios de Artes Visuais e Cinema lançam zine “Mecunã Kérupi Ané”
As primeiras “Amarrações Estéticas” da 9ª edição dos Laboratórios de Criação 2021 já têm data marcada e vão reunir artistas indígenas das Artes Visuais e do Cinema. O evento será na próxima segunda-feira (21), a partir das 19h, com o lançamento da zine “Mecunã Kérupi Ané – Imagens dos Povos Indígenas do Ceará”. Com transmissão ao vivo pelo Youtube da Escola Porto Iracema — instituição da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult) gerida pelo Instituto Dragão do Mar (IDM) —, terá a participação dos artistas Byya Kanindé, Junior Potyguara, Merremii Karão Jaguaribaras, Karine Araújo, Débora Anacé e Bárbara Matias.

A publicação conta com tutoria e curadoria de Iago Barreto e Ka, abrigando as artes visuais e escritas de 19 artistas indígenas do território cearense, a maioria participante do grupo artístico Tamain. A zine está disponível virtualmente na plataforma Issuu. 
Segundo Barbara Matias, artista indígena do povo Kariri, “o trabalho foi registrar aquilo que nós já sabíamos sobre a gente [como coletivo] e partilhar com outras pessoas, principalmente os não-indígenas, um pouco das poéticas e estéticas que a gente vem desenvolvendo no cenário artístico cearense e para outros territórios”, conta. Ela comenta a experiência de participar desta edição do Laboratório CENA 15 – Cinema. “Os imaginários sobre o meu povo foram, em maioria, roteirizados por não-indígenas, então estar nesse espaço, aprender a técnica desta linguagem é subverter, narrar modos do meu povo que não sejam estereotipados. Essa responsabilidade de estar no Lab Cena 15 me desafia e também causa muita alegria”, relata.
Para a artista Merremii Karão Jaguaribaras, “o Laboratório de Criação [em Artes Visuais] veio como uma oportunidade de ampliar e dar visibilidade aos processos criativos de nós indígenas, um espaço onde podemos dialogar sobre nossas práticas artísticas”, comenta.
Na zine, o público vai encontrar diversas temáticas expressas por meio das artes visuais e escritas. Como os desenhos do artista Junior Potyguara, que representa indígenas de diversos contextos e características. “Cabelos cacheados, olhos azuis, trazendo a quebra de estereótipos criados e sustentados por mentes colonizadas pelo preconceito de homens brancos”, antecipa o artista.

Já de acordo com a artista visual Byya Kanindé, “meu projeto puxa para as plantas medicinais, quero poder levar a importância que elas têm de curar”. O objetivo, segundo ela, é “desenvolver fotografias que levem a pensarmos como a espiritualidade está presente nas plantas”.

Outras perspectivas

Iago Barreto, arte-educador e um dos tutores da zine, destaca o processo de curadoria. “É um projeto que pensa o sonhar a partir da perspectiva de jovens indígenas, que ao semear aquilo que pensam enquanto dormem vão despertando outras pessoas do pesadelo colonial.” Para o curador, o público pode esperar de Mecunã Kérupi Ané “um convite a conhecer o mundo de 19 artistas indígenas em sua temporalidade, narrativas ecológicas, saberes ancestrais, possibilidades oníricas e utópicas”, analisa.

Nesta segunda edição, a Prismazine #02: Mecunã Kérupi Ané / Imagens de Povos Indígenas do Ceará reúne trabalhos dos artistas Acauã Pitaguary, Adriane Oliveira, Alleff Utah Itapewa, Barbara Matias Kariri, Byya Anacé, Fagner Gavião, Iago, Jenipapo-Kanindé, Jardel Potiguara, Jéssica Anacé, Junior Potiguara, Kaolin Tremembé, Lucas Kariri, Merremii Karão Jaguaribaras, Messi Tapuya Kariri, Rafa Anacé, Rapha Anacé, Rodrigo Tremembé, e Thaís Pitaguary.

Além deles, a organização foi realizada por Igor Cavalcante e Felipe Camilo, com Produção de Formações de Lia de Paula e design de Marina Mota. O projeto é uma realização do IFOTO, apoiado pela Secretaria Estadual da Cultura do Ceará, por meio do Fundo Estadual da Cultura, com recursos provenientes da Lei Federal nº 14.017/2020 – Aldir Blanc.

Sobre os artistas

BARBARA MATIAS – LAVRAS DA MANGABEIRA
Barbara Matias é indigena do Povo Kariri. Nasceu na comunidade do Marreco (Aldeia Marrecas) , Quitaius, Lavras da Mangabeira. Artista curiosa, transita entre as artes da cena, audiovisual e escrita. Sua prática é um caminho não-linear que usa a corpa como suporte para denunciar o memoricídio, “se-acontece” em diferentes plataformas artísticas para resgatar memórias originárias e recontar memórias nativas que foram apagadas devido o etnocídio/genocídio da nação Kariri. Doutoranda em Artes da Cena pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

MERREMII KARÃO JAGUARIBARAS – CANINDÉ
Militante indígena, agricultora, ambientalista, poetisa, artista visual. Graduanda em Sociologia na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab-CE). Na arte, preserva e promove saberes em diversas linguagens.

BYYA KANINDÉ – CANINDÉ
Indígena do Povo Kanindé de Aratuba (CE), zona rural, sempre morou na Aldeia. Ex-estudante da Escola Manoel Francisco dos Santos, estudante de Hotelaria no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) de Baturité, é membra dos grupos de jovens indígenas do estado do Ceará “Tamain, JIC” (Juventude indígena conectada), monitora do Museu Kanindé, artista visual, fazendo registros desde os 14 anos.

KARINE ARAÚJO – FORTALEZA
É experimentadora. Desde 2016 atua em Artes Visuais. Colabora na idealização da Carcará Foto Conferência e no Grupo Tamain (grupo com artistas indígenas de território cearense). Em seus percursos mais recentes, utiliza a arte como espaço e ferramenta de experimentação no processo de retomada de consciência da sua memória indígena.

DÉBORA ANACÉ – CAUCAIA
Tenho 23 anos e moro na reserva indígena taba dos Anacé. Sou fotógrafa indígena e pedagoga em formação. Faço parte de alguns coletivos indígenas e gostaria de destacar o Tamain, que é um coletivo de artistas indígenas do Ceará que sempre me incentivou muito.

JUNIOR POTYGUARA – MONSENHOR TABOSA
Indígena e natural da Serra das Matas, em Monsenhor Tabosa (CE), é residente na aldeia Vila Nova (zona urbana), periferia Alto da Boa Vista. É artista visual, utilizando técnica de desenhos coloridos com inspirações do sagrado e sentimentos livres esporádicos. Faz parte do coletivo Tamain de artistas indígenas do Ceará, onde expõe as lutas indígenas por meio da arte, retomada e protestos.

Amarrações Estéticas 
Com o objetivo de promover conexões entre os processos criativos desenvolvidos nos Laboratórios de Criação, o/as Amarrações Estéticas – como sugere o próprio nome – surge  para consolidar os atos criativos através de amarrações construídas a partir de diálogos entre os projetos em desenvolvimento, articulando-se em torno de eixos temáticos definidos a partir dos interesses comuns entre  as pesquisas artísticas.
A Escola Porto Iracema das Artes trabalha com o imaginário do mar em seus processos de construção do conhecimento. Assim, Amarrações Estéticas busca inspiração no repertório simbólico da cultura marítima. “Amarração” é o ato que consolida a atracação das navegações no cais dos portos e dá firmeza aos “nós” da rede de pesca. Portanto, uma metáfora que expressa os objetivos do programa, no sentido de atar os diálogos transdisciplinares das nossas práticas.

Sobre a Escola
A Porto Iracema das Artes é a escola de formação e criação do Governo do Ceará, instituição da Secretaria da Cultura (Secult) gerida pelo Instituto Dragão do Mar (IDM). Criada em 29 de agosto de 2013, há oito anos desenvolve processos formativos nas áreas de Música, Dança, Artes Visuais, Cinema e Teatro, com a oferta de Cursos Básicos e Técnicos, além de Laboratórios de Criação. Todas as ações oferecidas são gratuitas.

SERVIÇO
O quê: Amarrações Estéticas reúne artistas indígenas de Laboratórios de Artes Visuais e Cinema em lançamento de zine
Quando: segunda, 21 de março, às 19h
Onde: Canal da Escola Porto Iracema no Youtube
Virtual e gratuito

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