domingo, 29 de maio de 2022

TEATRO CEARENSE EM SAMPA

Ceará tem três espetáculos selecionados para a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo

Plataforma Brasil 2022 acontecerá de 2 a 12 de junho;  FOTO - Cena do espetáculo Ancés 

A Mostra Internacional de Teatro de São Paulo lançou em março de 2022 uma convocatória com o objetivo de compor a programação da próxima MITbr – Plataforma Brasil, projeto de internacionalização de artes cênicas da MITsp, a ser realizada de 2 a 12 de junho. A intenção é fomentar a visibilidade, circulação e reconhecimento da produção cênica brasileira para além de nosso país.

Das mais de 300 inscrições recebidas de todos os Estados do Brasil, foram selecionados três projeto cênico do Ceará: Ancés, de Tieta Macau (CE); E.L.A, de Jéssica Teixeira (CE) e Fortaleza, de Fauller/Cia. Dita (CE).

Os trabalhos inscritos foram analisados e selecionados por Jane Schoninger e Jorge Alencar, profissionais especialistas em artes cênicas. A seleção dos trabalhos foi orientada pelo compromisso com a investigação cênica, a radicalidade nos posicionamentos e propostas, o engajamento em perguntas sintonizadas com nosso tempo e as experiências não territorializadas, que se reconheçam como uma cena em campo expandido

A alta qualidade foi um aspecto marcante nas propostas inscritas na MITbr 2022. São trabalhos de Norte a Sul do Brasil que evidenciam a força criadora de artistas e grupos nas mais diversas temáticas e linguagens. No contexto atual, a dualidade entre presença e ausência, bem como a importância de honrar a ancestralidade entram em cena em obras que ampliam a possibilidade do pensamento divergente.

“Desde 2018, procuramos fomentar e promover grupos e artistas nacionais, que privilegiam espetáculos com pesquisa experimental e investigação da linguagem cênica. Dentro da nossa programação, nos debruçamos sobre o debate de internacionalização. Além da programação de espetáculos nacionais, temos realizado ações pedagógicas voltadas para a capacitação de gestores e produtores culturais, além de cursos e seminários", afirma Guilherme Marques.

Ao longo das edições, com a MITbr conseguiu resultados para artistas e grupos brasileiros. "Essas ações reforçam a política da MITsp que é de internacionalização, voltada ao apoio aos artistas brasileiros, não apenas com circulação, mas com o desenvolvimento e a sustentabilidade das linguagens artísticas", coloca Antonio Araujo.


Parcerias com festivais: resultados práticos

Em seu quinto ano consecutivo (em 2021 houve uma edição online com grupos convidados), a MITbr – Plataforma Brasil, criada em 2018 como um dos eixos da MITsp, procura dar visibilidade, difundir, circular e trazer reconhecimento para o cenário artístico nacional. Os sete grupos e artistas se apresentarão ao público com a presença de programadores de festivais nacionais e internacionais. São parceiros os festivais de Edimburgo; o Proximamente da KVS, em Bruxelas, o Lift, em Londres e o Festival de Santarcangelo, na cidade italiana de mesmo nome.

As ações que visam a internacionalização já apontam resultados concretos: artistas e grupos brasileiros conseguiram se inserir no trânsito de colaborações e apresentações. Altamira 2042, de Gabriela Carneiro da Cunha, esteve em turnê por festivais de países como França, Portugal, Suíça e Uruguai. Lobo, de Carolina Bianchi, foi convidado a se apresentar no Skirball, em Nova York, em 2020. A atriz e diretora Janaína Leite, que se apresentou na edição de 2020, dará um workshop no Festival Proximamente, na Bélgica. O Grupo Mexa levou Cancioneiro Terminal para o Festival Traansform, em Leeds, na Inglaterra; e devem iniciar um processo à distância com artistas da cidade inglesa para a próxima edição.

Outros espetáculos como violento., solo encenado por Preto Amparo, com concepção de Preto Amparo, Alexandre de Sena, Grazi Medrado e Pablo Bernardo; Caranguejo Overdrive, da Aquela Cia de Teatro; Isto é um Negro?, do grupo E Quem É Gosta?; Vaga Carne, de Grace Passô; De Carne e Concreto, da Anti Status Quo Companhia de Dança estiveram em festivais como o Festival Mladi Levi, na Eslovênia, o Proximamente e o FITEI - Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica, no Porto, Portugal.

Em dança, a bailarina e coreógrafa Marta Soares, com Vestígios, teve ingressos esgotados na sua performance em 2019 no Festival Proximamente. Boca de Ferro, das coreógrafas Marcela Levi e Lucia Russo, foi assistido aqui e em outros festivais por programadores internacionais e, este ano, a dupla estreou grrRoUNd no Festival de Artes Kunsten, na Bélgica. O trabalho, uma coprodução com outros festivais, ainda é inédito no Brasil.

Lista de trabalhos selecionados

Equipe curatorial: Jane Schoninger e Jorge Alencar

Trabalhos selecionados (por ordem alfabética):

1 – Ancés, Tieta Macau (CE)

2 – Despacho Coletivo, de Jaqueline Elesbão/Coletivo Pico Preto (BA)

3 – E.L.A, de Jéssica Teixeira (CE)

4 – Eles Fazem Dança Contemporânea, de Leandro Souza (SP)

5 – Fortaleza, de Fauller/Cia. Dita (CE)

6 – Há Mais Futuro que Passado - Um Documentário de Ficção, de Complexo Duplo (RJ)

7 – Trava Bruta, de Leonarda Glück (PR)

 

Programação MITbr – Sinopses espetáculos do Ceará

Ancés (2017) |Tieta Macau| (CE)

Duração: 45 minutos | Recomendação: livre 

Ancés traça um percurso entre presença e ausência, ativando memórias não codificadas em instâncias dizíveis ou lineares. A coreografia se desenrola da linearidade greco-romana de Cronos, marcada pelas horas, para um tempo e espaço direcionado a Iroko, orixá cultuado pelo candomblé no Brasil, regido pelo tempo de imanência da ação. Percorre o tempo de evocação e articulação de memórias, que se dão entre movimento, som e palavra, rastros que compõem o presente da criação. Com isso, Tieta Macau apresenta o espetáculo como modo de pensar/inventar relações entre ancestralidade, corpo, memória e contemporaneidade, colocando a dança como possibilidade de rearticular narrativas, tornar heterogêneo o que antes era homogêneo, causar estanques, interrupções, desviar de padrões, inventar, propor novos fins e inícios.

 

E.L.A (2019) | Jéssica Teixeira| CE

Duração: 70 minutos | Recomendação: 14 anos |

No solo, a atriz Jéssica Teixeira investiga cenicamente seu próprio corpo – inquieto, estranho e disforme – e questiona de que forma ele interage com o mundo. Assumindo a personalidade Ela, em contraponto a seu corpo (Ele), Jéssica faz de seu físico uma ferramenta multifacetada (ética, política, estética), que desestabiliza e potencializa outros corpos e olhares, buscando uma visão sensível sobre a diversidade e a multiplicidade, além de uma crítica à imposição de padrões de beleza. A artista se apoia em textos teóricos (como o livro O Corpo Impossível, da pesquisadora Eliane Robert Moraes) e na sua própria biografia para criar, em cena, um misto de depoimento e cenas performáticas. Vemos, nesse trânsito narrativo, seu corpo transformar-se muitos: da diva pop ao ciborgue, até libertar-se de amarras e desembocar na selvageria.

 

Fortaleza (2019) | Cia Dita| CE

Duração: 40 minutos | Recomendação: 18 anos |

A palavra Fortaleza traz a ambiguidade de ser o nome da capital do Estado do Ceará, na região nordeste do Brasil, e designar uma estrutura arquitetônica militar projetada para a defesa na guerra – aludindo às ideias de força e fortificação. O espetáculo da Cia. Dita remete a essas duas possibilidades, já que trabalha a partir da iconografia da cidade, por meio de fotografias que retratam os bailarinos nus diante de marcos arquitetônicos. O trabalho apresenta-se como resistência, revelando um corpo-cidade político que busca tornar possível viver na aspereza da vida urbana, ao mesmo tempo que coloca em evidência as raízes indígenas, a influência da Belle Époque e de outros fatos históricos da capital. Revela corpos periféricos e marginais, em permanente estado de guerra. Ali se inscrevem simultaneamente a violência e a delicadeza da cidade, cujo nome já traz em si a ideia de resiliência.

 

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