Uma estudante cheia de sonhos e metas, além de completamente obstinada a quebrar um padrão familiar existencial de escassez. Um certo dia, enquanto lia sobre moda, imaginou uma loja de roupas onde pudesse imprimir seu estilo e suas ideias. De repente surge o nome da possível grife: E-SANTA. Isso acontecia em meados de 2009. Mas tudo era muito fantasioso. Em 2010, decide abrir um CNPJ para comercializar algo, porém isso ainda não aconteceu. Aliás, o CNPJ e os DAS sim, mas como comércio, ainda não tinha sido realizado, até porque ela amava a comunicação e continuava trabalhando nesse segmento.
Passados exatos dez anos, esta mesma jovem teve inúmeras experiências negativas. Precisou, inclusive ser exilada em um interior de seu Estado (Ceará) que não lhe pertencia, o qual lhe era completamente estranho, onde ninguém a conhecesse, por medo de morrer. Sofreu violência doméstica e decidiu abandonar tudo e viver unicamente da renda da locação de um imóvel. Afinal, foi o que lhe restou, pois foi adquirido antes de constituir seu casamento. Nesse interior, alugou uma casa em um lugar completamente isolado. Naquele lugar de solidão, começou a ter muito mais contato com a natureza, e teve a oportunidade de conhecer um cavalo abandonado, magro, extremamente debilitado. Certa vez, ao caminhar notou que ele começou a lhe acompanhar e decidiu retribuir a parceria lhe prestando cuidados. Em uma outra ocasião - de muita dor, tristeza e desengano -, sentou-se próximo a uma árvore e começou a chorar. O cavalo, que até então não tinha nome, sentou-se junto a ela e percebeu-se uma lágrima escorrendo em seus olhos, como se sentisse o que ela estava sentindo e querendo consolá-la. A jovem não acreditou que aquele fato poderia estar acontecendo. Então, começou a amá-lo ainda mais e visualizou um alinhamento sobre seu arquétipo, sobre o significado desse acontecimento em sua vida. Deu uma virada de chave porque entendeu que não era “abandonada”, tinha ali um forte aliado que se comunicou emocionalmente com ela. Começou a sair mais e ir a eventos com a temática rural, onde cavalos eram o centro das atenções e tudo isso para observar, visto que, sentindo falta de seu cavalinho, já tão velhinho e que não conseguia percorrer grandes distâncias. Essa menina participava dos eventos apenas observando as pessoas, como se vestiam, andavam, conversavam. Porém, as vaquejadas têm padrões bem específicos, e logo a moça viu que estava se vestindo de forma equivocada para esse tipo de ocasião.
Sem dinheiro, ela não conseguiu acessar nenhuma empresa do seguimento, então resolveu improvisar e decidiu pintar uma blusa básica, com as tintas que costumava usar em telas decorativas. Na blusa estava escrito: NUNCA FOI SORTE, SEMPRE FOI DEUS. As pessoas começaram a perguntar onde ela comprou a blusa, porque queriam uma igual àquela que ela estava vestida. A explicação, por várias vezes, era que não estava sendo comercializada em lugar nenhum, e aquilo era um fato atípico. Um produto único, personalizado e customizado.
Em pouco tempo aquela garota cede aos inúmeros pedidos e começa a pintar blusas para conhecidos, sem qualquer conhecimento e manejo adequado. Em um mês começou a ficar inviável fazer tudo sozinha, pois a demanda só aumentava e não tinha mão de obra suficiente para realizar os pedidos em tempo hábil. Foi preciso, então, retornar para cidade para imaginar como seria multiplicar, estruturar, e criar uma marca. Pegou aquela ideia criada em sua mente em 2009 e decidiu usá-la. Assim nasceu a E-SANTA.
Procurou o Sebrae para aprofundar-se sobre empreendedorismo, afinal, era um desafio e tanto, além de precisar saber como driblar a escassez de recursos para criar e gerir um negócio do zero. Porém, a cada criação apresentada, a resposta do público era quase imediata e muito positiva. A multiplicação de pedidos começava a indicar altas métricas e crescimento e, consequentemente, com resultados interessantes. Então, foi necessário criar iniciativas inovadoras voltadas ao empreendedorismo de baixo custo, excelência no atendimento e na cultura organizacional de forma empírica e simbólica.
Hoje ela busca potencializar o negócio que virou uma franquia virtual, através da padronização e exclusividade dos produtos em todas as regiões do Brasil. E aposta em uma gestão colaborativa onde o foco primário são os clientes. Além disso, ela acredita na liberdade da construção colaborativa também incentivando os parceiros, colaboradores e “franqueados” a desenvolverem-se emocionante e economicamente através de conhecimento e quebra de paradigmas.
A menina que conseguiu tirar 150,00 para investir em um negócio completamente diferenciado, hoje gera emprego e renda para mais de 115 famílias de forma direta e indireta. A pandemia lhe trouxe outras questões, no caso, a social. Criou campanhas de arrecadação e conseguiu ajudar pessoas em estado de vulnerabilidade. Ano passado, a jovem empreendedora foi diagnosticada com câncer raro, uma espécie de mieloma no sangue e em meio a seu tratamento conseguiu observar a dor e dificuldades de quem não tinha possibilidade para custear o mínimo, como remédios e assistência médica.
Em cima desta perspectiva ela cria o projeto +1. Cada unidade de produto vendido, a empresa retira 1 real para destinar às causas sociais. Essa menina visionária percebeu que vender roupas ia além do consumo, pois sabemos que vestimenta é artigo de primeira necessidade, mas muito mais do que uma venda, o ser humano viria em primeiro lugar. Sabe-se que existem pessoas que não tem condições financeiras nem para o alimento, imagina então para vestirem-se com o mínimo de dignidade. Dessa forma, nasceu então, a ABA, tornando-se depois E-ABA (para fazer alusão a E-SANTA) empresa paralela ao seu ramo de atuação, a qual a proposta é vender roupas novas e usadas na mesma plataforma, trazendo um conceito de consumo muito mais acessível. Funciona assim: você pode dar a sua roupa usada como entrada na aquisição de uma nova ou pode adquirir uma peça semi-nova a preços incríveis. É possível, quem puder e quiser, fazer doações para gerar recursos direcionados a iniciativas sociais. Hoje, com o crescimento dos empreendimentos e ideias voltadas para o social, já se pensa em um instituto, o INSTITUTO E-SANTA.
O cavalo que entendeu a dor daquela jovem decepcionada e amedrontada faleceu em janeiro de 2021 e deixou grandes lembranças e é, até hoje, grande inspiração. Hoje todas as blusas E-SANTA têm nome, e um porquê.
Essa moça, chamada Gabriela, não finaliza a sua história e sim, continuará falando sobre a experiência E-SANTA. O maior aprendizado é que o cenário atual não define resultado final, principalmente quando há sensibilidade, muito amor e paixão no que se faz. A marca E-SANTA não vende produtos e sim uma experiência que gera possibilidades de conexões, além de representatividade contribuindo ainda mais para a popularização de ideias que contemplem e dêem mais notoriedade à nossa cultura nordestina e ao Nordeste brasileiro.
Além de tudo isso, com toda a história de empreendedorismo, aprendizados e inspirações sobre a vida, Gabriela lança em julho de 2023 seu primeiro livro, intitulado "FASE NÃO É FIM", onde ela conta com suavidade, porém com a força de quem já esteve tantas vezes a ponto de desistir e não se deu por vencida uma trajetória de luta e esperança. Nada de autoajuda, mas um incentivo às novas chances que a vida sempre dá.
"Embarque numa jornada muito especial de autodescoberta, encorajamento e empoderamento, um convite à reflexão de como o agora é passageiro, e de como a vida é composta por fases", assim diz o posfácio.
E Gabriela está sempre a postos, de braços e olhos bem abertos para o que a vida ainda lhe trouxer, até porque a vida é feita de fases.
SERVIÇO:
LANÇAMENTO DO LIVRO "FASE NÃO É FIM" DE GABRIELA QUINTELA
Quando: dia 8 de setembro de 2023
Onde: Livraria Leitura do Shopping Riomar Papicu
Horario: 19h
Instagram: @gabrielaquintela.oficial
Nenhum comentário:
Postar um comentário